A saudade é uma chatice

Nota: O texto que se segue é a versão original, escrita em português. A versão em inglês é uma tradução do original. Para ler a versão em inglês, altere a língua do site para inglês no cabeçalho.

Este texto tem 7 anos! A essência é actual, o homem não!

Tenho saudades porra. Tenho mesmo. Sério que tenho. Saudades de ouvir português correto. Saudades de conhecer os buracos nas estradas, de passar nas passadeiras a 80 e andar junto à "beira".

Tenho saudades do ar do mar. Saudades do chouriço, e de ver uns pomares (fazem bem à saúde e ficam bem na paisagem, e já agora, uma ovelhita ou duas; no máximo).

Tenho saudades, sim. Saudades dos meus amigos, daqueles!!! Daqueles de quem a gente não espera nada, porque não há nada para esperar, há verdade.

E saudades da minha cidade? Tenho. Pois tenho. Das duas (Eu sou de onde eu quiser).

É impossível não se ter saudades de 27 anos de vida (e já estou a correr para os 30), não há como não se ter saudades da família, não há como não ter saudades da gasolina cara e do cheiro das faunas agrícolas, do paralelo… (ha? - ok!) do cheiro a pão quente e uma rotundazinha ou outra, e o café? Ai o café? Esplanada, oh, vida.

Às vezes para colocar os pés na terra lembro-me da função publica, e da EDP, mas depois passa.

Mas o que mais me faz suspirar é aquela sensação de estar em casa, acho que nunca vou voltar a ter. Eu não me sinto em casa, mesmo estando em casa, casa que não é casa, porque a minha casa não é aqui.

É sentimento hoteleiro. A gente chega, arruma as malas e espera que chegue a hora de ir embora, está a ser muito bom, mas a gente quer ir.

A saudade é uma chatice, até porque temos de encarnar aquela personagem de que “yhap eu curto muito isto” e curto, mas, as cidades começadas por “B” têm tanta historia.

Tenho muitas saudades dos jantares com 40 pessoas, dos amigos em casa até às 3/4 da matina (e podíamos fazer barulho).

Uma coisa é a gente ter uma vida e o futuro, e “blá, blá…” mas isto é tudo tão certinho. Eu sinto necessidade daquelas chamadas às 11 da noite com o seguinte: ‘Estamos a caminho, não é tarde pois não?” ho!!! Já não há disso há muito - e não, não era tarde.

Só as “B’s” é que me dão isso. A saudade é uma chatice. Eu ia dizer que a culpa é do Euro, mas já coloquei muitas aspas neste texto.

Sobre o autor: Ricardo Araújo é um fotógrafo e diretor criativo português, natural de Barcelos, com 37 anos de idade. Em 2013, aos 27 anos, Ricardo emigrou com a sua família para o Canadá em busca de novas oportunidades e experiências. Apesar dos desafios iniciais de adaptação a um novo país e cultura, Ricardo encontrou a sua voz criativa e, em 2020, estabeleceu-se como fotógrafo e diretor criativo da sua própria marca. Casado e pai de um filho, Ricardo encontrou um equilíbrio entre a sua paixão pela arte e as suas responsabilidades familiares. Além das suas conquistas empresariais, ele é um membro ativo das comunidades integradas em Toronto, contribuindo para causas sociais e culturais, colaborando com artistas e personalidades da comunidade portuguesa. A sua presença é sentida não apenas nas galerias de arte e estúdios fotográficos, mas também nas ruas da cidade, onde ele se envolve ativamente em projetos comunitários e eventos culturais. Como verdadeiro apaixonado por arte, Ricardo tem sido consistentemente reconhecido pelo seu talento e criatividade. As suas obras foram selecionadas para exposições fotográficas em Toronto e publicações internacionais, adornando capas e editoriais completos, personificando a ideia de seguir a sua paixão e criar o seu próprio caminho. Para conhecer melhor o seu trabalho, visite https://www.tophotography.ca/.

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