Terra Nova e Labrador

POPULAÇÃO DE TERRA NOVA E LABRADOR: 521,542

ESTATÍSTICAS RELACIONADAS COM OS PORTUGUESES NA TERRA NOVA:

COMO LÍNGUA
MATERNA
COMO MAIS
FALADA
CONHECIMENTO
DA LÍNGUA
NASCIDOS
PORTUGAL
ORIGEM
ÉTNICA
165
(0.03% da população)
50
(0.01% da população)
395
(0.1% da população)
140
(0.03% da população)
1,215
(0.2% da população)
Fonte: Statistics Canada

UMA HISTÓRIA QUE PERDURA HÁ SÉCULOS

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Quem fizer uma curta pesquisa sobre a relação de Portugal com a Terra Nova e Labrador, depressa verificará que são diversas as teorias relacionadas com quem 'descobriu' primeiro esta nova terra banhada pelo Atlântico Norte. Embora haja uninamidade em relação à presença dos Vikings na região ainda antes de outros povos terem aqui chegado, o mesmo não se pode dizer no que diz respeito à sua "descoberta" oficial. No entanto, e embora a teoria de que João Caboto atracou nesta terra primeiro, há fortes evidências que sugerem que os portugueses podem legitimamente reclamar o estatuto de descobridores. 

A evidência não é definitiva, mas muitos historiadores acreditam que os portugueses começaram a pescar na costa da Terra Nova no final do Século XV. Há, no entanto, fortes indícios de que João Fernandes Lavrador, um agricultor que residia na ilha açoriana da Terceira, esteve aqui possivelmente antes da chegada de Caboto. A teoria é apoiada por termos utilizados em mapas da época em que Terra Nova e Labrador eram referidos como Terra del Rey de Portugal. Tal termo é usado no mapa de Alberto Cantino de 1502, o mapa mais antigo que representa esta província canadiana, exposto na Biblioteca Estense em Modena, Itália. Em 1534, um mapa desenhado por Giovanni Benedetto a pedido de Arthur de Cossé, chamou de Lavvrao (mais tarde Lavrador) à região continental que é atualmente conhecida por Labrador.  

No ano de 1500, Gaspar Corte-Real e o seu irmão Miguel, ambos também da Terceira, chegaram ao que alguns historiadores consideram ter sido a Terra Nova enquanto outros sugerem que também visitaram a Gronelândia durante a mesma viagem. Gaspar Corte-Real chamou as terras que visitou de Terra Verde. Em 1501, regressou ao local com três caravelas. Alega-se que capturou 60 indígenas, para os sujeitar à escravatura, mas relatos históricos sugerem que apenas os cativos chegaram a Portugal e que Corte-Real não conseguiu regressar, afogando-se no oceano com a sua tripulação. A forte evidência da sua presença persistente por estas paragens foi posteriormente registada pelo holandês Gerardus Mercator que, em 1569, designou a área de Terra Corte Realis.

Alguns historiadores acreditam que Portugal tentou fundar uma colónia aqui em 1520 depois de ter enviado João Álvares Fagundes, natural de Viana do Castelo, para explorar a área. É possível que ele tenha chegado ao Golfo de São Lourenço, mas não há consenso entre os estudiosos quando se trata do quão longe ele chegou em sentido oeste. Há ainda a sugestão de que o explorador formou uma pequena colónia em Ingonish, Cape Breton, ou Mira Bay, também em Cape Breton. No entanto, não há evidências claras para apoiar esta teoria. 

A realidade é que a presença portuguesa na Terra Nova remonta há mais de 500 anos. A evidência não está apenas registada nos livros de História ou nos mapas da época, mas também nos vários nomes de vilas e localidades de influência portuguesa. Locais como Portugal Cove, Bay of Fundy (baía funda), Baía de Verde, Fogo, Terra Nova, Aquaforte, Labrador, entre outros, são evidência meritória. 

Os pescadores portugueses continuaram a fazer visitas regulares à costa da Terra Nova para tirar partido da sua vasta oferta de peixe, e em particular do bacalhau, que é indispensável na cozinha portuguesa. Aliás, Terra Nova também já foi apelidada de “Terra do Bacalhau” (terra do bacalhau) no passado. Essa presença regular dos portugueses permitiu que os pescadores criassem fortes laços com a população local ao atracarem para abastecer os seus barcos com mantimentos e outros bens essenciais. Os habitantes de Newfoundland passaram a ver esses pescadores como gentis e amigáveis, o que conduziu a um elevado respeito mútuo. 

Porto de St. John’s com a Catedral na colina (Crédito: pixabay.com)

Evidência desse relacionamento de longa data são duas incidências durante a metade do século passado. A primeira ocorreu em 1955, quando a Catedral Católica Romana em St. John's observou o seu 100o aniversário e foi, simultaneamente, elevada a Basílica. O contingente de pescadores portugueses que participou na cerimónia era formado por entre quatro a cinco mil homens que desfilaram pelas ruas de St. John’s com uma oferenda especial que se mantém exposta no interior da Basílica: nove estátuas de Nossa Senhora de Fátima. Em 1965, a estátua de Gaspar Corte Real foi inaugurada na Prince Philip Drive, St. John's, junto ao Edifício da Confederação. Recentemente, tem havido discussão em torno da remoção da estátua devido a alegados maus tratos dos povos indígenas por parte de Gaspar Corte Real.  

Os murais da Duckworth Street, St. John's, retratando cenas de cidades portuguesas, são outro memorial da nossa presença em Newfoundland e Labrador. Também em St. John’s, encontra-se a sepultura do pescador da Frota Branca, Dionísio Esteves, localizada no Cemitério Católico Mount Carmel. Dionísio Esteves ficou preso entre o seu barquinho de pesca e o casco do navio, e não resistiu aos ferimentos. 

A Frota Branca tornou-se tema de muitos contos populares entre os residentes da Terra Nova. Anualmente, de maio a outubro, os cascos brancos dos navios portugueses enfeitavam as águas ao largo da costa, rodeados por barquinhos de pesca que se espalhavam pelo oceano. Estes navios transportavam centenas de pescadores que se aventuravam na água nos seus minúsculos barcos de onde pescavam horas a fio, molhados e cansados. Era um trabalho extremamente árduo, mas parte de um ritual com séculos de idade.

(clique para ver o documentário White Fleet)

De acordo com o Censos de 2016, existem 1,215 residentes da Terra Nova e Labrador que consideram Portugal a sua origem étnica e 165 que continuam a usar o português como uma das suas línguas de comunicação. Embora a relação entre Portugal e a Terra Nova já perdure há séculos, a região nunca conheceu uma associação comunitária portuguesa, muito pelo facto de os portugueses nunca se terem estabelecido aqui permanentemente em números suficientes.  

REFERÊNCIAS

Heritage Newfoundland and Labrador, 2020

Newfoundland’s Grand Banks, Bill Crant, 2000

Archivalmoments.ca, 2019

Biblioteca do Congresso, Otava, Governo do Canadá

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