Manitouwadge

POPULAÇÃO DE MANITOUWADGE: 1,937

ESTATÍSTICAS RELACIONADAS COM OS PORTUGUESES EM MANITOWADGE:

COMO LÍNGUA
MATERNA
COMO MAIS
FALADA
CONHECIMENTO
DA LÍNGUA
NASCIDOS
PORTUGAL
ORIGEM
ÉTNICA
15
(0.8% da população)
10
(0.5% da população)
40
(2.1% da população)
25
(1.3% da população)
50
(2.6% da população)
Fonte: Statistics Canada

PRESENÇA PORTUGUESA NUMA LOCALIDADE ESCONDIDA NA FLORESTA

Artigo baseado numa peça de Paulo Pereira para a Revista Luso-Ontário, 2008

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Foi em Thunder Bay que nos disseram que em Manitouwadge viviam alguns portugueses. Consultámos o mapa e reparámos que a cidade se situava, isolada, no meio da floresta, a cerca de 60 quilómetros a norte da autoestrada 17. Ficámos curiosos, mas também apreensivos porque não encontrávamos razões para ali habitarem portugueses. Por isso, ao regressar de Thunder Bay em direção a Sault Ste. Marie, fomos debatendo a possibilidade de visitarmos a pequena povoação. Assim que nos deparámos com o sinal que indicava o caminho para Manitouwadge, a curiosidade apoderou-se de nós e lá fomos em sua direção, trilhando a estrada solitária que fecundava a floresta.

Estrutura na autoestrada 17 a indicar o caminho para Manitouwadge

Eram 8h30 da manhã quando chegámos ao topo da colina na estrada e nos deparámos com a pacata cidade de Manitouwadge. Um centro turístico encontrava-se ali mesmo, junto à estrada, à entrada para a povoação. Parámos para obter informações… mas estava fechado. Do outro lado da rua, vimos uma padaria, mas optámos por passear pela cidade na tentativa de encontrar um marco que comprovasse que portugueses moravam ali.  

Não encontrámos sinal da nossa presença por aquelas paragens.   

Decidimos visitar a padaria. Entrámos para abordar a senhora por detrás do balcão, na expectativa que nos pudesse ajudar. Porém, uma longa fila, que teimava em avançar, obrigou-nos a ser pacientes. Decidimos interrogar uma jovem, que esperava tão pacientemente como nós, se tinha conhecimento de alguma pessoa de origem portuguesa naquela terra. “Aquela senhora é portuguesa,” apontou para uma mesa ao fundo da sala. Agradecemos e corremos para interromper a conversa que essa senhora travava com uma amiga. 

"Desculpe. A senhora é portuguesa?" Perguntámos.

"Sou!" Ela respondeu, algo surpreendida.

Delirámos de alegria. Afinal, tinha valido a pena o desvio no trajeto. 

Acolhedora, convidou-nos a puxar de uma cadeira enquanto explicávamos o nosso propósito. Maria Botelho era o seu nome. 

Quando a conversa começou a ganhar ritmo, Maria Botelho apontou para um senhor que acabara de entrar no estabelecimento.

"Aquele senhor também é português”, anunciou. Era o Sr. João Benevides. Minutos depois, o Sr. José Botelho – marido de Maria – também se juntou a nós e rapidamente formamos um grupo de portugueses numa cidade distante, plantada no meio do nada. Foi um momento glorioso.   

Da esquerda para a direita: José Botelho, Maria Botelho, João Benevides

Entre pequenos goles de café, fomos aprendendo sobre a comunidade portuguesa nesta cidade. “Na década de setenta, tínhamos talvez trinta famílias portuguesas a trabalhar numa mina de cobre. Hoje temos cerca de cinquenta portugueses a viver aqui”, começou José Botelho para depois João Benevides intervir: “Os portugueses juntavam-se no café, mas hoje já não se unem tanto”.

A cidade nunca gozou de uma associação portuguesa formal, nem desfrutou das maravilhas de um rancho folclórico ou de uma equipa de futebol. 

Num espaço tão pequeno, a assimilação à cultura canadiana por parte dos portugueses que aqui se estabeleceram, não demorou a acontecer. No entanto, Maria Botelho é uma luso-canadiana que adora Manitouwadge, mas que também se mantém informada sobre o que se passa em Portugal através da internet. “Também temos a RTPi aqui”, disse ela. João Benevides – o mais velho do trio de entrevistados – também se mantém ligado a Portugal através da televisão, mas confessa que o seu país é agora o Canadá. “Moramos tanto tempo aqui que nos acostumámos. A nossa casa agora é aqui e é aqui que muitos, como eu, se vão aposentar”, confessou. 

Uma bandeira portuguesa numa janela é marca da nossa presença aqui

O isolamento é algo que já foi superado pelos mais velhos. No entanto, os mais novos preferem estabelecer-se em cidades maiores, como Thunder Bay, Otava e Toronto, embora continuem a celebrar a cultura dos seus pais. “Durante o Mundial, as pessoas hasteiam a bandeira portuguesa e os mais novos têm orgulho de serem portugueses. Eles entendem, mas não falam muito português”, lamentou José Botelho.

Após uma longa e satisfatória conversa, Maria Botelho e João Benevides ofereceram-nos uma visita guiada pela vila. Ao longo do caminho, encontrámos alguns dos outros portugueses que moravam ali. 

Chegara a hora de dizer adeus. José Botelho partiu em direção ao campo de golfe para um jogo com alguns amigos, enquanto Maria Botelho e João Benevides regressavam às suas lides. Nós, alegres e deslumbrados, voltámos à estrada em silêncio, reletindo sobre a fantástica descoberta que haviamos feito.

Atualização: Em conversa telefónica a 20 de janeiro de 2022, José Botelho disse-nos que já está reformado mas que continua a jogar golfe, o seu passatempo preferido. Junto com a sua esposa Maria, continuam a morar em Manitowadge, mas viram a comunidade diminuir para um número minúsculo de famílias: os Botelhos, os Gaspares e os Aguiares. Os jovens mudaram-se para cidades maiores e é apenas uma questão de tempo até que a presença portuguesa nesta cidade abrigada pela natureza desapareça por completo. Por motivos de saúde, João Benevides, o nosso outro entrevistado em 2007, reside agora em Sudbury.

Com ficheiros da Revista Luso-Ontário, 2008
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