Toronto

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A CIDADE COM MAIOR POPULAÇÃO PORTUGUESA NO CANADÁ

POPULAÇÃO DA GRANDE TORONTO: 6,313,000

ESTATÍSTICAS RELACIONADAS COM OS PORTUGUESES NA GRANDE TORONTO:

COMO LÍNGUA MATERNACOMO MAIS FALADACONHECIMENTO
DA LÍNGUA
NASCIDOS EM PORTUGALORIGEM
ÉTNICA
104,305
(1.6% da população)
50,210
(0.8% da população)
134,220
(2.1% da população)
71,045
(1.1% da população)
210,425
(3.3% da população)
Fonte: Statistics Canada

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Após a chegada do navio Saturnia ao Cais 21 de Halifax, em 1953, com o primeiro grande grupo de imigrantes portugueses, a nossa presença aqui começou a crescer de forma constante nas décadas que se seguiram. Inicialmente, esses recém-chegados foram enviados para várias comunidades, muitas delas rurais. Vários académicos e historiadores sugerem que este fenómeno foi uma estratégia que o governo adoptou como tentativa de dificultar o surgimento de comunidades étnicas. No entanto, se essa era a intenção, claramente não funcionou. Esses pioneiros começaram a migrar e a organizar-se em grandes centro urbanos, como Toronto. Em 1956, o primeiro passo para o que se tornaria num tremendo movimento associativo em Toronto, havia começado com a fundação da primeira organização na província e a segunda no Canadá - o First Portuguese Canadian.

Toronto, juntamente com Montreal, rapidamente se tornou no destino preferido da maioria dos recém-chegados de Portugal. Naturalmente, as primeiras associações comunitárias portuguesas foram formadas nestas duas cidades. Em Toronto, foi em setembro de 1956 que um grupo de dez homens fundou a Associação Luso-Canadiana. Porém, os fundadores foram forçados a mudar o nome da organização após receberem notícias de que outra com nome semelhante havia sido formada em Montreal, em janeiro desse mesmo ano. Desta forma, First Portuguese Canadian foi fundada, a primeira em Toronto e a segunda mais antiga no Canadá. Um ano depois, Associação Democrática foi formada, surgindo da necessidade de criar um movimento político dado o regime da época na pátria mãe.

Toronto é a cidade do Canadá com o maior número de portugueses (foto: Luis Ruiz - Pexels.com)

A década de 1960 testemunhou a segunda maior onda de imigração portuguesa e, com ela, a formação de ainda mais associações em Toronto. Casa da Madeira foi a primeira a ser fundada nesta década, em 1963, na sequência da compra de uma propriedade a norte de Toronto que servia para reunir os que vinham da Pérola do Atlântico. Depois, em 1969, foi formada a Casa do Benfica de Toronto Estas duas organizações, que se mantêm ainda muito ativas, tornaram-se importantes instituições sociais e culturais na comunidade portuguesa. A Casa da Madeira foi o berço de outras organizações que mais tarde se formaram, e a Casa do Benfica foi, em tempos de outrora, grande ponto de encontro para jovens e idosos. Mais tarde, durante cerca de uma década que abrange a viragem do milénio, tornou-se também no clube de maior sucesso na história da Associação de Futebol de Toronto.

Foi durante a década de 1970 que o maior número de portugueses emigrou para o Canadá. No total, estima-se um número que ronda os 100,000. À medida que a comunidade ia crescendo, o mesmo ocorria com o movimento associativo. A primeira organização a ser fundada nesta década foi Amor da Pátria, em 1971. Em 1973, Asas do Atlântico e Sport Clube Angrense foram formados, seguidos por Associação Cultural do Minho em 1977.  Vitória de Setúbal surgiu nesse mesmo ano, mas foi dissolvido recentemente, após a viragem do milênio.

Na década de 1980, a comunidade cresceu ainda mais. Como resultado, estabeleceram-se meios de comunicação social, lojas, restaurantes, padarias e outros comércios e serviços que serviam os portugueses. Este crescimento também ajudou à formação de mais de uma dúzia de novas organizações comunitárias. Graciosa Community Centre, Sporting Clube Português de Toronto e Rancho Folclórico As Tricanas foram os primeiros, em 1980. No ano seguinte, Centro Comunitário de Peniche foi fundado, seguido pelo já extinto Grupo Português Transmontano. A Associação Portuguesa da Universidade de York, que recentemente mudou de nome para Associação Lusófona da Universidade de York, foi formada em 1982 por alunos daquela instituição de ensino pós-secundário, tornando-se a primeira organização comunitária portuguesa liderada por estudantes em Toronto. Em 1983, outra associação comunitária de relevo foi formada: Casa do Alentejo. Casa dos Açores seguiu-se, em 1985. Em 1986, Toronto assistiu à formação de duas organizações que representavam não só duas regiões distintas do Norte de Portugal, mas também dois clubes de futebol diferentes: Casa dos Poveiros – Varzim Sport Clube e Sporting Clube de Braga-Arsenal do Minho. Este último tornou-se no primeiro vencedor da Taça do Ontário em futebol. Foi exatamente a paixão pelo futebol que provocou a fundação do Futebol Clube do Porto de Toronto, em 1987, após os Azuis e Brancos se terem sagrado campeões europeus pela primeira vez, depois de derrotar o Bayern de Munique na final (2-1). Nesse mesmo ano, a comunidade testemunhou a formação da ACAPO, indiscutivelmente uma das organizações mais importantes não só em Toronto como em todo o Canadá, responsável pela celebração do Dia de Camões e Das Comunidades Portuguesas na cidade. A completar este conjunto de organizações formadas durante a quarta década da nossa presença no Canadá está o Clube Académico de Viseu, criado em 1989 e reformulado em 2000 como Casas das Beiras.

A Parada do Dia de Portugal, promovida pela ACAPO, atrai dezenas de organizações e milhares de espectadores

A década que se seguiu viu a criação das derradeiras organizações comunitárias portuguesas. No total, três associações foram formadas em anos consecutivos. Em 1996, a comunidade testemunhou um grande avanço em direitos humanos e justiça social com a formação de Associação Arco-Íris, uma organização que representa os LGBTQ2S+ portugueses em Toronto. Luso-Cantuna, fundada em 1997, rapidamente se transformou num grupo dinâmico grupo, liderado por estudantes, e conhecido principalmente pelo seu Festival de Tunas, um evento que reune tunas de diversas partes do mundo. Finalmente, em 1998, a criação da Associação Migrante de Barcelos representa a última das organizações comunitárias portuguesas sem fins lucrativos fundadas em Toronto. Embora tenha sido a última a ser formada, a AM Barcelos, como é carinhosamente apelidada pelos seus sócios e simpatizantes, resistiu ao teste do tempo, ao contrário de outras associações nas últimas duas décadas.

Para além destas associações comunitárias, muitas outras organizações representam Portugal em Toronto, tais como clubes de futebol e ranchos folclóricos. Ironicamente, apesar das associações terem implementado iniciativas inovadoras ao longo dos anos, estamos a testemunhar um regresso às origens já que o futebol e os ranchos folclóricos são as atividades que continuam a ligar as novas gerações de luso-canadianos à cultura dos seus pais e avós.

Embora as organizações comunitárias contenham uma história de preservação cultural por meio do trabalho voluntário, a marca de nossa presença na maior metrópole do Canadá vai muito além disso. Em Toronto, um português pode viver a sua vida sem nunca ter de falar uma única palavra em inglês. Esta é uma realidade que tem sido lentamente desafiada – e alterada – à medida que nascem novas gerações de luso-canadianos, o que obriga os mais velhos a utilizar mais uma das línguas oficiais do Canadá.

Com ficheiros da Revista Luso-Ontário, 2008
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Cleaner’s Action Program (1975) melhorou as condições de trabalho de muitas mulheres portuguesas

Em 1975, as mulheres portuguesas que trabalhavam na indústria da limpeza enfrentavam sérios desafios no local de trabalho, que incluíam baixos salários, longas horas e péssimas condições de trabalho. O Cleaner's Action Program surgiu devido a essas circunstâncias e abriu caminho para um ambiente de trabalho mais favorável para todos os trabalhadores de limpeza em Toronto que eram, na altura, maioritariamente mulheres.

Muitas das mulheres portuguesas que trabalham na indústria da limpeza têm experiências relacionadas com a exploração dos seus serviços, mas o fenómeno era ainda mais acentuado nos anos que se seguiram à nossa chegada ao Canadá. Até que, em 1975, a situação tornou-se insuportável. Somando à falta de condições no trabalho, o governo do Ontário da época complicou ainda mais a situação após cancelar um contrato, negociado com a Local 204 da Service Employees International Union (SEIU) para limpar o complexo de Queen's Park, concedendo-o a outra empresa.

O Cleaner’s Action Program foi liderado por Sydney Pratt, que começou a organizar workshops onde as mulheres podiam expor as suas preocupações num ambiente seguro e de apoio. Isso resultou no lançamento de um boletim chamado Cleaner's Action Newsletter, distribuído a trabalhadores da limpeza que trabalhavam na baixa de Toronto. O boletim fornecia informações sobre os direitos laborais e entrevistas com profissionais da limpeza portugueses. À medida que as senhoras da limpeza se matriculavam em aulas de ESL, o seu domínio do inglês também melhorava. Em 1981, já escreviam artigos, produziam e editavam o boletim informativo.

Muitas empregadas de limpeza portuguesas contribuíram para a newsletter

Este movimento concedeu às mulheres da limpeza melhorias e vitórias significativas em locais de trabalho de renome, como Toronto Dominion Towers, o Queen's Park Complex e o First Canadian Place.

O programa acabou por se transformar em algo maior do que um movimento trabalhista. À medida que as mulheres revelavam as suas preocupações relacionadas com o trabalho aos profissionais da St. Christopher House, os problemas domésticos também se tornavam assunto. Daqui resultou o lançamento do Programa de Violência Doméstica para as Mulheres Portuguesas e do Domestic Violence Group Project, inicialmente dirigido às mulheres portuguesas. Este foi o primeiro programa virado para o abuso doméstico de mulheres imigrantes em Toronto. Embora tenha recebido o apoio de várias pessoas da comunidade portuguesa, o programa de violência doméstica também foi alvo de muitas criticas por parte dos seus elementos mais conservadores.

Abaixo, pode ver uma entrevista publicada por Rise Up! com a fundadora do Cleaner's Action Program, Sydney Pratt, e Marcie Ponte, ex-organizadora sindical do International Lady Garment Workers Union e ex-membro do Labour Council. Na entrevista, dão-nos uma visão mais detalhada do movimento que melhorou as condições de trabalho de muitas mulheres de limpeza da comunidade portuguesa.

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Sol Português – o fim de um ciclo!

11 de Setembro de 2023

O Jornal Sol Português conquistou, ao longo dos anos, o título não oficial de líder da imprensa comunitária ao publicar artigos de alta qualidade e de conteúdo útil. Nestes últimos 40 anos, tem providenciado à comunidade portuguesa da Grande Toronto a cobertura imparcial de eventos e assuntos locais, bem como conteúdos editoriais de relevância tanto de Portugal como do resto do mundo. No dia 16 de junho de 2023, publicou a sua derradeira edição, marcando o fim de uma era para a a imprensa comunitária local.

Uma nota, publicada no seu website solnet.com, intitulada “Última publicação do jornal Sol Português”, informa:

É com grande tristeza que informamos os nossos estimados leitores e anunciantes, bem como os clubes, associações e a comunidade portuguesa em geral que esta será a última edição do jornal Sol Português.

Ao longo dos últimos 40 anos temos acompanhado a comunidade portuguesa, servindo de testemunha e registo do seu desenvolvimento e crescimento; das dificuldades também, mas sobretudo dos seus muitos e muitos sucessos.
 
Não foi uma missão fácil, face às dificuldades e vicissitudes que caracterizam o jornalismo escrito, mais ainda num país onde a língua portuguesa não é o idioma oficial, os recursos são escassos e os apoios praticamente inexistentes.

Contudo, apraz-nos termos podido assistir à transformação de uma comunidade que está hoje, volvidos 70 anos de imigração oficial portuguesa, cada vez mais participativa e enraizada no seio da sociedade canadiana e onde tantos dos seus elementos, muitos dos quais tivemos oportunidade de destacar nas nossas páginas, encontraram sucesso e se notabilizaram em diferentes áreas de actividade.

Quando começámos esta jornada da informação, a comunidade e o mundo eram muito diferentes do que são hoje. Orgulhamo-nos de termos revolucionado a comunicação social de língua portuguesa no Canadá através do nosso exemplo – e não apenas a imprensa escrita.

Ao contrário de então, o mundo está agora profundamente interligado e o acesso à informação do nosso país de origem é instantânea e imediata, se assim desejarmos.

Chegou a hora de largarmos a caneta e descansarmos, conscientes de que a comunidade portuguesa tem mais opções de informação do que nunca. O tempo pesa sobre nós e nossa saúde está em declínio.

É altura de pousarmos "a pena" e descansarmos, sabendo que a comunidade portuguesa tem mais opções informativas do que nunca. O tempo pesa e a saúde para alguns de nós há muito que escasseia. Por isso, volvidas quase duas mil edições edições do jornal Sol Português, vejamos esta despedida antes como umas "férias" – para muitos de nós, as primeiras em quarenta anos e há muito merecidas – e uma oportunidade para ficarmos agora do "lado de lá" da escrita dos que, sem dúvida, tomarão a seu cargo dar continuidade à nobre missão de informar.

Por fim, gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para expressar o nosso mais profundo e sentido agradecimento a todos os leitores, anunciantes e colaboradores que ao longo de quatro décadas acompanharam esta magnífica jornada.
Sempre foi nosso único objectivo informar a comunidade de forma isenta e imparcial, contribuindo para fomentar o espírito de união entre todos os portugueses que escolheram este país para começar uma nova vida, independentemente da sua terra natal ou região de origem.

Em nome da nossa equipa, presente e passada, um grande e sentido "obrigado" a todos e votos dos maiores sucessos para esta maravilhosa comunidade e para todos os que lutaram, lutam e certamente vão continuar a lutar para que seja cada vez mais forte, participativa e inclusiva. Bem hajam e... até sempre!

A Direcção -

Sol Português é a mais recente vítima de uma lista que inclui outras publicações de língua portuguesa sediadas na área metropolitana de Toronto como Voice, Team Desportivo e Jornal Flash, entre outros.

Eu fiz parte do percurso

Ao crescer em Portugal, partilhei um sonho inevitável com todos os rapazes da minha aldeia: ser jogador de futebol. Embora esta parte do meu futuro não fosse negociável, eu preparavam-me secretamente com um plano B, que era ser jornalista. Depois de chegar ao Canadá, aos 18 anos, com um conhecimento rudimentar da língua inglesa, rapidamente presumi que não seria realista enveredar pelo jornalismo. Porém, tudo mudou quando me deparei com um anúncio no Sol Português a procurar colaboradores locais. Liguei imediatamente para o jornal e, após um agradável encontro com António Perinú, tornava-me no mais novo colaborador do Sol Português, o jornal mais conceituado da comunidade.

Fui tratado como família desde o primeiro dia. O Sr. Perinú e toda a sua equipa foram profissionais, corteses e extremamente atenciosos. Informavam-me sempre com bastante antecedência das reportagens que tinha a fazer - o que era importante para alguém que não fazia daquilo o seu emprego - e providenciavam-me o equipamento necessário para a execução do meu trabalho, incluindo câmaras, gravadores de voz e até o uso de um computador no escritório. Depressa desenvolvemos uma relação de extrema confiança, que resultou em novas tarefas tais como vender publicidade e publicar muitas histórias curtas que estavam na minha gaveta há anos. Como repórter comunitário, tive a oportunidade de participar em dezenas de eventos promovidos pelas nossas associações locais e de conhecer pessoas incríveis, muitas das quais ainda considero amigas. Foi uma experiência que não só me ajudou a crescer profissionalmente, mas também a crescer como pessoa.

Momentos memoráveis ​​incluem ser o primeiro em Toronto a entrevistar o Shawn Desman e a Mariza, e acompanhar e testemunhar em primeira mão o fantástico trabalho que o líder comunitário, José Eustáquio, efetuou na ACAPO ao transformá-la na mais importante organização comunitária portuguesa no Canadá.

Todas as histórias têm um fim. Embora tenha encontrado um ótimo ambiente de trabalho no Sol Português, precisava de novos desafios – até um filho sai da casa dos pais para começar uma nova vida. Na altura, fui convidado a assumir o cargo de Editor do Team Desportivo, o que, para mim, significava fazer o que realmente mais gostava, que era cobrir regularmente o futebol comunitário. Esta experiência levou-me a aprofundar o meu envolvimento nos meios de comunicação comunitários, e mais tarde usei esse conhecimento e experiência para fundar o Jornal Flash com David Silva. Ainda hoje acredito que o meu maior contributo para a comunidade, tanto na altura como historicamente, foi através do Team Desportivo e do Jornal Flash…e devo isso ao Sol Português porque, sem a oportunidade que me proporcionou, provavelmente nunca me teria envolvido nos meios de comunicação comunitários.

A última edição do Sol Português é mais uma indicação clara do declínio no envolvimento comunitário. Embora seja expectável que o fenómeno ocorra em comunidades mais pequenas um pouco por todo o Canadá, a situação torna-se preocupante quando referências como um jornal conceituado fecha as suas portas na cidade mais portuguesa do país.

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Leslieville foi notavelmente portuguesa

5 de fevereiro de 2024

By Devin Meireles

Isenção de responsabilidade: Os pontos de vista e opiniões expressos no artigo que se segue são da responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição e política oficiais de lusocanada.com, de Luso Canada Media Corp. e da sua administração

A diáspora portuguesa é enorma, especialmente entre os ilhéus. Açorianos e madeirenses emigraram para longe das suas pátrias no Atlântico plantadas. Eles desembarcaram em lugares como a minha cidade natal, Toronto, onde se enraizaram na cultural local, mantendo a sua cultura e tradições.

Houve um contributo substancial dos portugueses na contemporaneidade da cidade, e agora, muitas gerações depois, eles continuam a fazer história. Embora Toronto tenha sofrido de grentrificação das suas áreas mais antigas, o que levou à perda de parte de sua influência cultural, há milenares, como eu, que podem, respectivamente, voltar aos seus bairros de infância e não os reconhecerem. A cidade está a mudar, e aparentemente mais rápido do que nunca, à medida que continuamos a construir colectivamente sobre os alicerces que foram estabelecidos pelos pioneiros das nossas comunidades.

Entre os portugueses, o mais óbvio foi a mutação da Portugal Village numa variedade de bares e restaurantes que agora a tornam num local moderno para atrair gente moderna e de festas. Apenas alguns dos negócios portugueses permanecem naquela faixa da Dundas Street, onde a comunidade ganhou o seu nome. É uma realidade muito distante do que já foi.

Embora menos conhecida, houver outrora um local na parte leste de Toronto com uma.representação luso-canadiana algo substancial. Leslieville foi onde este escritor cresceu e onde criou memóriase de uma época em que os açorianos constituíam uma grande parte da população do bairro.

À medida que a área crescia com os imigrantes no final dos anos XNUMX, a Paróquia Católica de São José, na Leslie Street, começou a oferecer missas em português. A escola primária a si adjacente contava com dezenas de alunos luso-descendentes para complementar a igreja. Uma comunidade dedicada comparecia ao culto dominical com as suas famílias. A paróquia carregava tradições antigas e celebrava festas para os padroeiros. Lindas procissões ocorreram ao redor do quarteirão que terminava na igreja. Esse foi o centro de atividade que nos uniu a todos.

Um vídeo caseiro de 1991 mostra quando este escritor desfilou na Celebração do Espírito Santo – o Grande Festival do Espírito Santo. O meu padrinho carregava talheres e uma coroa, sobre a minha cabeça, como fazia na sua terra natal, na ilha. O cruzamento da Curzon com a Queen Street East estava irreconhecível quando a procissão dobrou a esquina. A cerimónia encerrou com uma grande concentração na cave do salão paroquial. Essa foi uma das muitas festas que foram ali celebradas. Os diversos participantes contemplaram os maravilhosos eventos e ocasiões. Algumas das minhas melhores memórias ocorreram naquela época com aquelas pessoas que compartilhavam do meu património religioso e cultural.

Leslieville estava repleta de portugueses, na sua maioria oriundos dos Açores. Ali encontraram seus lares permanentes, longe do centro saturado do extremo oeste que todos reconhecemos hoje. Os meus avós foram um dos primeiros a fazê-lo, outros seguiram-no e mais tarde formou-se uma ramificação da comunidade que se havia estabelecido na Portugal Village. Esse não foi o único local onde se estabeleceram, pois há várias áreas onde os portugueses decidiram fincar as suas bandeiras na área da Grande Toronto, mas Leslieville era um dos grupos maiores, suficientemente grande para acolher o seu próprio pároco.

Esse foi um breve momento na história, porque a igreja voltou a ter um padre que fazia missa apenas em inglês em meados dos anos noventa. As festas cessaram a partir de então, mas muitos desses portugueses permaneceram na área. Muitos dos camaradas deste escritor ainda vivem lá até hoje. Tal como a maioria, eles permanecem ligados à sua cultura e próximos da família, prestando atenção aos meios de comunicação locais que servem à comunidade e, claro, visitando a parte oeste da cidade. No entanto, isso também por mudar e as viagens pela cidade para fazer compras na padaria aos fins de semana são, sem dúvida, menos frequentes. Tanto Leslieville como Portugal Village já foram gentrificados.

À medida que Toronto se impulsiona com novos desenvolvimentos para moldar o futuro, as contribuições dos imigrantes não podem ser esquecidas. Esses pioneiros lutaram para manter vivas as expressões da sua cultura e permaneceram unidos nessa frente. Estas diversas áreas onde se estabeleceram os portuguesas foram importantes para o desenvolvimento da comunidade. Conclusivamente, não importa onde se estabelecem, se a leste ou a oeste. A realidade é que os portugueses tiveram um papel fundamental na história da cidade e do país.

É convicção deste escritor que precisamos de preservar a memória colectiva da nossa influência nestes bairros, pois conhecer esta história será fundamental para transformar os bairros em que residimos. Leslieville teve vida curta na diáspora portuguesa, embora significativa para aqueles que nela viveram e ainda vivem.

Nota do editor: pode assistir a um vídeo da Parada do Espírito Santo, realizada em Leslieville, em 1991,aqui: 

Sobre o autorDevin Meireles nasceu e cresceu em Toronto, Canadá, onde a sua experiência como membro da diáspora portuguesa afetou-o produndamente. Atualmente, voluntaria-se para promover a sua cultura e retribuir à comunidade. Em 2022, publicou um livro para preservar a sua descendência portuguesa, um romance narrativo não ficcional sobre a imigração dos seus avós para o Canadá. Os seus artigos também foram publicados em revistas literárias e de saúde, e jornais culturais. Além da escrita criativa, ele gosta de adicionar às suas coleções de tatuagens, notas e selos de viagem. A sua profissão insere-se no setor da saúde como líder de operações, onde a sua experiência garante o funcionamento diário com coordenação de alto nível. Reside junto ao Lago Ontário com a sua esposa e o seu cachorro.

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Kensington Market - onde tudo começou

11 de fevereiro de 2024

Os segredos viajam depressa em pequenas aldeias como aquela onde eu cresci, em Portugal. Por isso, não fiquei surpreendido quando o plano secreto do meu pai em trazer a família para o Canadá ricocheteou misteriosamente no paralelo dos caminhos estreitos da minha terrinha e chegou aos ouvidos de todos, até daqueles menos curiosos. Naquela época, não havia internet nem telemóveis, mas, mesmo assim, a notícia espalhou-se muito além das fronteiras da minha humilde localidade, para o outro lado do Atlântico, mais rápido do que o defunto Concord. Num momento, o meu pai fazia-nos o anúncio em segredo e, de seguida, o telefone fixo não parava de tocar. Um dos telefonemas chegou de um velho conhecido que morava em Toronto. Fui eu que atendi. Disse-me que queria falar com o meu pai, mas àquela hora eu estava sozinho em casa. Curioso, sondou-me e questionou-me, mas eu tinha poucas respostas para dar. Antes de desligar, pedi-lhe para deixar o seu endereço para que nos pudéssemos encontrar aquando da nossa chegada a Toronto. Ele soltou uma leve gargalhada e atirou:: “Não precisas do meu endereço. Tenho certeza de que nos vamos encontrar na Augusta.” E com isto, desligou.

Encolhi os ombros perante tal comentário e decidi dar-lhe pouca relevância, mas guardei-o na minha memória para eventualmente testar a sua veracidade. Por algum tempo, questionei-me sobre essa coisa de Augusta. Seria uma cidade, um parque, uma rua ou a casa de alguém? Fiquei curioso, confesso, mas também desejei nunca ter a oportunidade de descobrir porque, naquela altura, desprezava a ideia de me mudar para o Canadá.

O meu mundo despedaçou-se quando saí de Portugal e cheguei a Toronto no dia 28 de fevereiro de 1991. O frio congelava as minhas lágrimas, mas toda a minha alma chorava em desespero. Embora eu tivesse chegado ao Canadá, o meu coração ficara em Portugal e, com ele, todos os meus pensamentos. Por essa altura, a ideia de encontrar aquele velho conhecido na Augusta já estava profundamente enterrada no meu subconsciente. Já não era relevante. Tudo o que eu queria era voltar à minha pequena e insignificante aldeia situada entre os montes e o rio Cávado, no norte de Portugal.

Os meus pais alugaram uma cave na Borden Street, a norte da College, perto do Kensington Market. Os primeiros dias num novo país deveriam ter sido maravilhosos, mas tornei-os cinzentos, optando por ficar em casa para que minhas lágrimas não congelassem. Chorei, dias a fio, pelos meus avós, por todos os meus amigos de infância e pela Susana, mesmo sabendo que ela eventualmente partiria o meu coração... mas sentia tanta falta dela. Os meus pais tentaram tirar-me de casa, mas sem sucesso. Eu tinha lágrimas para chorar. Porém, um dia acordei sem vontade de chorar e um vislumbre de esperança acendeu-se no meu coração. Caminhei pelas ruas cobertas de neve e dei por mim no Dufferin Mall. Sem um tostão, admirei as vitrinas das lojas e maravilhei-me com a quantidade de pessoas que falavam português em meu redor. Inesperadamente, pela primeira vez, senti que o Canadá poderia ser a minha nova casa.

Então disposto a dar uma oportunidade a Toronto, aceitei o convite da minha mãe para ir às compras no Kensington Market, ali mesmo ao virar da esquina. Caminhámos para leste pela College Street, passando pelo velho quartel de bombeiros e por uma infinidade de pessoas que desfilavam pelo passeio, até que a minha mãe puxou-me em direção ao sul, para uma rua ainda mais movimentada. Um arrepio momentâneo percorreu a superfície da minha pele quando olhei para a placa da rua. Anunciava: “Augusta Avenue”. Aquele telefonema de um ano atrás invadiu a minha mente e as palavras que o meu velho conhecido havia proferido martelavam-me o cérebro enquanto me tentava distrair com o infinito de lojas que ladeavam a famosa avenida. Dei por mim a examinar freneticamente todos os rostos enquanto os meus ouvidos sintonizavam centenas de pessoas que falavam a minha língua. Se eu fechasse os olhos, transportar-me-ia à minha saudosa feira de Barcelos numa qualquer quinta-feira. Por entre tal deslubramento, questionei-me em silêncio: será que as palavras profetizadas pelo meu velho conhecido finalmente se manifestariam? 

A minha mãe ocupava-se a escolher as maçãs e as bananas mais perfeitas enquanto o espólio da nossa aventura balanceava por entre os meus dedos cerrados. O meu corpo rodou instintivamente após sentir um leve toque no ombro. Rotação completa, deparei-me com um rosto conhecido que me fitava com aquele olhar que, mesmo sem palavras, anunciava: eu avisei-te. Ainda supreendido por tal encontro, ouvi-o pronunciar triunfantemente: “Não te disse que nos íamos encontrar na Augusta?”

Vista sul na Augusta Avenue

UM ENCONTRO RECORRENTE

Esse meu encontro refletiu, numa escala muito menor, muitos outros encontros ao longo dos primeiros quarenta anos da presença portuguesa no Canadá. A área do Kensington Market foi, em essência, o berço da nossa comunidade em Toronto e, durante muitas décadas, também o seu núcleo.

A comunidade judaica, maioritariamente oriunda da Hungria, era a maior no quarteirão desde a década de XNUMX, embora os portugueses se tenham tornada concorrentes sérios durante as quatro décadas que se seguiram. Homens de todas as regiões de Portugal chegaram ao bairro e alugaram quartos individuais para poupar dinheiro. Alguns sonhavam em regressar a casa, mas a grande maioria acabou por ficar e por chamar a família. Uma vez reunidos com as esposas e fos ilhos, compraram ou alugaram casas na área e continuaram a frequentar a Augusta Avenue e as artérias adjacentes.

Esta afluência significativa de portugueses levou, naturalmente, à criação de organizações empresariais e sociais na área. O Sousa's Restaurant abriu junto ao cruzamento da Nassau Street com a Bellevue Avenue, o Portuguese Bookstore estabeleceu-se do outro lado da rua, mais tarde uma loja chamada Casa Açoreana surgiu na Baldwin Street, e pouco depois a Lisbon Bakery agraciou a comunidade com a primeira fornada de pães e doces portugueses no Canadá. A St. Christopher House oferecia uma creche e aulas de inglês para os imigrantes portugueses, bem como apoio com documentos governamentais e outros assuntos. Todo este movimento obrigou à inauguração de um Consulado oficial de Portugal em Toronto para servir uma população em constante crescimento.

O First Portuguese Canadian Club foi fundado em 1956. Situado junto ao Sousa’s Restaurant, oferecia atividades culturais, desportivas e sociais e apoiava toda a comunidade com assuntos variados. Foi dentro dos muros da associação que se formou o primeiro rancho folclórico no Canadá (Grupo Folclórico da Nazaré) e muitas outras organizações ao longo dos anos, incluindo a Aliança de Clubes e Associações Portuguesas do Ontário (ACAPO). Para muitos, o First Portuguese foi o local de referência para todos os aspectos da vida, incluindo a resolução de assuntos governamentais e o preenchimento de documentos oficiais.

A Igreja de Santa Maria, localizada na Bathurst Street, a sudoeste do Kensington Market, tornou-se a paróquia da comunidade, embora um padre alemão que trabalhara no Brasil já celebrasse missa em português na Catedral de Saint Michael no início dos anos cinquenta. No final da década, a Paróquia de Santa Maria tinha um padre português a tempo inteiro e, em 1964, dois outros párocos chegaram para apoiar uma comunidade vigorosa.

Vista leste na Baldwin Street

Embora muitas empresas e organizações tenham sido formadas, poucas permaneceram na área após as primeiras três décadas da presença oficial Portuguesa no Canadá. O Tivoli Billiards, fundado no início dos anos sessenta, foi uma dessas excepções, pois testemunhou os dias de crescimento e solidificação e, mais tarde, do êxodo da comunidade para outras partes da cidade. Reza a lenda que os taxistas que trabalhavam no aeroporto Lester B. Pearson International não precisavam de mais informações após tomarem conhecimento de que o viajante era um novo imigrante português. Sem mais conversa, deixavam o cliente em frente do Tivoli Billiards onde, em poucas horas, os recém-chegados encontravam trabalho e alojamento.

Após a minha chegada ao Canadá, em 1991, o meu pai tinha por hábito levar-me ao Tivoli, junto com meus irmãos, todos os domingos de manhã, depois da missa. O local estava sempre lotado, mesmo não servindo bebidas alcoólicas na época. Uma nuvem de fumaça pairava no ar enquanto dezenas de homens conversavam em alto som e tomavam café e refrigerantes. Ao longo do longo salão havia mais de uma dezena de mesas de bilhar, todas elas ocupadas por jogadores que encantavam um público curioso, enquanto outros esperavam pacientemente pela sua vez. Neste estabelecimento, conheci portugueses e luso-canadianos de todas as esferas da vida, desde o homem que limpava o centro comercial àquele que se tornara milionário. Para muitos como eu, o Tivoli tornou-se o centro da comunidade, pois permaneceu como ponto de encontro durante vários anos após a minha chegada ao Canadá.

Foi no estabelecimento que comemorei, junto com meus irmãos e amigos, a vitória do Toronto Argonauts na Grey Cup e a vitória de Portugal na final do Campeonato do Mundo FIFA Sub-20 sobre o Brasil em 1991, as vitórias dos Blue Jays na MLB World Series em 1992 e 1993, a época inesquecivel dos Toronto Maple Leafs que terminou com uma derrota amarga perante os LA Kings em 1993, e o inesquecível empate do Benfica por 4-4 no terreno do Bayer Leverkursen em 1994, entre tantas outras memórias.

Depois que sairmos da área, o Tivoli Billiards continuou a chamar por nós. Embora existissem vários bares e cafés portugueses no nosso novo bairro, a norte da cidade, os meus irmãos e eu, juntamente com um grupo de amigos, conduzíamos mais de meia-hora para jogarmos bilhar ou assistir a jogos de futebol no Tivoli. Tal ocorreu durante muitos anos até que o estabelecimento fechou as suas portas, por volta da viragem do milénio. O seu encerramento marcou o fim de uma era para muitos recém-chegados e, particularmente, o fim de um capítulo notável na história da comunidade portuguesa em Toronto.

Embora ainda possam ser encontrados alguns vestígios da presença portuguesa na zona do Kensington Market, os menos conhecedores da história do bairro não farão ideia da sua extraordinária influência na formação da comunidade. O português já não é muito falado nos passeios que ladeiam a Augusta Avenue, e os recém-chegados já não reencontram aqui velhos conhecidos. A memória individual e colectiva, juntamente com um escasso número de pesquisas académicas e reportagens de jornais, permanecem como relatos parcos mas valiosos de uma história que não podemos permitir que desapareça junto com o falecimento daqueles que a viveram pessoalmente.

Ajude-nos a expandir este capítulo da nossa História. Para entrar em contato conosco: se gostaria de partilhar memórias ou experiências relacionadas com o Kensington Market ou se conhece alguém que nos pode ajudar a expandir esta parte de nossa história. Também aceitamos fotos e artigos, escritos em português ou inglês. Juntos, vamos escrever a nossa história.