New Brunswick

POPULAÇÃO DE NEW BRUNSWICK: 797,102

ESTATÍSTICAS RELACIONADAS COM OS PORTUGUESES EM NEW BRUNSWICK:

COMO LÍNGUA
MATERNA
COMO MAIS
FALADA
CONHECIMENTO
DA LÍNGUA
NASCIDOS
PORTUGAL
ORIGEM
ÉTNICA
260
(0.03% da população)
110
(0.01% da população)
450
(0.1% da população)
130
(0.02% da população)
1,785
(0.2% da população)
Fonte: Statistics Canada

LUSO-CANADIANAS MANTÊM A IDENTIDADE EM NEW BRUNSWICK

Novembro de 2021

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

O Canadá tem uma sólida presença portuguesa que é facilmente rastreada na maioria das Províncias através das suas organizações comunitárias. No entanto, para além da fronteira que liga o Quebeque ao Canadá Atlântico, torna-se mais difícil identificar aqueles que vêm da terra de Camões, já que não existem clubes ou associações portuguesas atualmente em operação. Este é o caso de New Brunswick onde, depois de muita procura, encontrámos Bernadette Fernandes, luso-canadiana e humanitária especializada em desenvolvimento económico que mora em Saint John desde criança.

Marcámos encontro por zoom para um final de tarde de domingo, no início de novembro de dois mil e vinte e um. Bernadette tinha prometido uma surpresa. Porém, deslumbramento apoderou-se de nós quando fomos presenteados, porque não esperávamos tão elevada honra. Assim que a imagem de vídeo invadiu o ecrã, deparámo-nos com Bernadette acompanhada de sua mãe, Adelaide Paulo, uma das pioneiras portuguesas em New Brunswick. Na altura com 85 anos de idade, Adelaide mantinha o olhar de uma mulher mais jovem e uma mente cheia de memórias de um tempo em que os portugueses desta região se reuniam para celebrar e promover a sua cultura.  

Bernadette Fernandes e a sua mãe, Adelaide Paulo

Quando Adelaide chegou a Moncton, em 1965, acompanhada das duas filhas para se juntar ao marido, passou a fazer parte de apenas quatro famílias portuguesas (todas do Norte de Portugal) que se tinham estabelecido em New Brunswick. Bernadette tinha pouco mais de um ano de idade. O marido de Adelaide, Albino Fernandes, trabalhava na construção civil com imigrantes que eram maioritariamente oriundos de Itália. Albino rapidamente se tornou fluente em italiano antes mesmo de aprender o inglês básico, embora mais tarde um contigente maior de portugueses acabou por também se estabelecer por aquelas paragens. Por seu turno, Adelaide, que já falava bem o francês, teve que aprender inglês, a língua oficial na época (embora New Brunswick mais tarde se tornasse, em 1969, a única província oficialmente bilíngue no Canadá).        

Adelaide e Albino tinham sido imigrantes na França, de onde viajaram para o Canadá. Porém, embora tivessem adquirido experiência a lidar com um novo modo de vida e uma língua diferente, os primeiros anos aqui não foram fáceis. “A imigração portuguesa abriu para o Canadá e fomos dos primeiros a chegar de avião. Aterrámos em Halifax. Foi difícil, mas começámos a aprender [inglês] e as pessoas queriam-nos ajudar. Eles ensinavam-nos”, lembrou Adelaide. “A minha mãe morou na França durante 5 anos e minha irmã e eu nascemos lá”, interveio Bernadette. “Somos de Miranda do Douro, de uma aldeia chamada Picote onde foi construída a primeira barragem em Portugal, em 1954. Vamos lá visitar muitas vezes”, disse Bernadette Fernandes em português perfeito.  

Ao contrário de outras cidades como Toronto, onde organizações estabelecidas apoiam os recém-chegados a procurar alojamento e emprego, New Brunswick não usufruia dessas condições na década de sessenta. Como tal, a adaptação a um novo idioma e a um novo modo de vida foi um desafio maior, mas, ao mesmo tempo, também a adaptação e a integração foi mais rápida. “Quando eles chegaram, não tinham um sistema de apoio e éramos dependentes uns dos outros. Acho que formámos mais uma comunidade europeia com os italianos e os gregos. Apoiavamo-nos uns aos outros”, explicou Bernadette.  

Nos anos que se sucederam à chegada da família Fernandes, a população portuguesa na região começou a aumentar gradulamente. A maioria chegava para trabalhar nas docas, especialmente durante a década de setenta. Esse aumento no número de recém-chegados oriundos de Portugal levou à formação de grupos culturais e sociais, como foi o caso da criação de uma associação comunitária e de um rancho folclórico. “No início dos anos oitenta, costumávamos-nos reunir e ir à praia, celebrávamos o Natal, a Páscoa, S. Martinho, e a Passagem do Ano. Nós até tivemos um rancho folclórico que uma vez foi convidado a atuar no Canada's Wonderland. A organização chamava-se Associação Portuguesa de Saint John”, lembrou Bernadette. Durante algum tempo, a região conheceu o primeiro e único estabelecimento português, que dava pelo nome de Café Europa, um bar “igual aos cafés portugueses em Toronto. As pessoas gostavam de lá ir.”

No final da década de noventa, os luso-canadianos começavam a dispersar-se ou a abandonar a Província, o que acabou por provocar a dissolução da associação, o desaparecimento do rancho e o fecho do Café Europa. “Agora somos poucos. Da minha geração, conheço mais uma pessoa portuguesa e da geração dos meus pais diria que não mais do que vinte pessoas. Em Fredericton, existem duas famílias que conhecemos”, disse Bernadette sob um aceno de confirmação por parte da sua mãe.  

De acordo com o Recenseamento Canadiano de 2016, há 1,785 residentes de New Brunswick que consideram Portugal a sua origem étnica e 260 que apontam o português como uma das línguas que utilizam para comunicar.

Mesmo que o auge da nossa presença nesta região tenha ocorrido há muito tempo, Adelaide Paulo ainda encontra formas de se manter ligada às suas origens. Assiste regularmente aos programas da RTP no seu iPad e recebe remessas regulares de produtos portugueses que lhe são enviados de Montreal. Pelo que nos deu a entender, polvo e moelas são os pratos favoritos de mãe e filha. Bernadette Fernandes também se tornou embaixadora do nosso frango assado, uma das suas receitas de marca que é popular entre os seus amigos canadianos quando a visitam. “Batatas Fritas, salada de tomate, e frango no forno”, Bernadette revela a ementa. Para além da culinária, Bernadette também transmite aos seus o presente valioso da língua. A sua filha entende e fala muito bem o português e, tal como a mãe, também se dá bem na cozinha, mas especialmente na pastelaria. Em Saint John, já se tornou famosa pelos seus pastéis de nata e pelo tradicional Caldo Verde.

A organização comunitária é agora inexistente e as reuniões sociais diminuíram significativamente. Porém, com luso-canadianos da estripe da família de Bernadette Fernandes, orgulhosos promotores dos costumes dos seus antepassados, vai demorar até que a nossa presença em New Brunswick entre no domínio dos livros de História.  

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