Centro Português Casa do Minho

Data de Fundação:4 de maio de 1974
Endereço: 1080 Wall Street
Winnipeg, Manitoba
R3E 2R9
Telefone:204-772-1070
Email:casadominho@mymts.net
Website:http://www.casadominho.net

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Breve História

Nas últimas décadas, a comunidade portuguesa de Winnipeg consolidou-se como uma das mais organizadas, cultural e socialmente, na região. No entanto, nem sempre foi assim. Quando a Casa do Minho foi fundada, no longínquo ano de 1974, a comunidade já contava com cerca de vinte e cinco mil pessoas, mas era servida apenas por uma associação. Embora a intenção não tenha sido de rivalizar com a única organização existente na época, a Casa do Minho foi inevitavelmente formada por necessidade. O que aconteceu depois é um exemplo de perseverança, resiliência, compromisso e dedicação dos seus associados e amigos.

Manuel Rodrigues Sousa é um exemplo dessa devoção. Foi um dos fundadores da Casa do Minho e tornou-se uma figura respeitada na comunidade portuguesa de Winnipeg devido às suas décadas de dedicação abnegada como voluntário com funções e responsabilidades variadas. Ainda ativo no campo associativo, o seu legado transpôs gerações e inspirou outros jovens a seguir os seus passos. Um exemplo perfeito disso é o seu filho mais novo, Samuel Sousa, que tem estado no centro das atenções em muitas das iniciativas da organização e que, em breve, será o seu novo presidente.

Nascido a 10 de novembro de 1943, em S. Martinho de Gandra, Ponte de Lima, Manuel Sousa trabalhou desde cedo como lavrador. Rapidamente desenvolveu uma afeição especial pelo folclore e juntou-se ao grupo da sua aldeia na tenra idade de 15 anos. Em 1964, alistou-se no exército e um ano depois viajou para a Guiné-Bissau para lutar numa guerra colonial desnecessária durante três longos anos. Voltou para a sua cidade natal em 1967, quatro dias após o falecimento do seu pai. Nesse mesmo ano, casou-se e começou a trabalhar como camionista para uma fornecedora de materiais de construção. Cinco anos depois, a 4 de junho de 1972, partiu para o Canadá num voo que pousou em Toronto, cidade onde planeava ficar e, mais tarde, juntar a sua família. No entanto, ele foi convencido por conhecidos a voar mais para o oeste, para Winnipeg, onde chegou dias depois. Eventualmente adquiriu estatuto de residente permanente no Canadá e, a 16 de abril de 1975, viajou a Portugal para trazer consigo a sua esposa e dois filhos, tornando Winnipeg o seu lar permanente.

Manuel Sousa com a família, depois de regressar ao Canadá

“Quando cheguei, a comunidade era grande. Há quem diga que naquela época tínhamos mais portugueses aqui do que agora porque a imigração estava aberta e tínhamos gente a chegar a toda a hora. […] Embora aqui tivéssemos muita gente, havia pouco envolvimento na comunidade”, disse Manuel Sousa em entrevista realizada via Zoom. “Em 1973, comecei a envolver-me. A Associação Portuguesa de Manitoba era a única associação na altura, mas eram poucas as pessoas que estavam envolvidas”, acrescentou. 

Embora a participação da comunidade na vida associatiava não fosse proeminente, Manuel Sousa testemunhou a integração inaugural de um rancho português no Folklorama, um evento que exibe as diversas culturas e etnías de Winnipeg durante duas semanas repletas de interesse a cada agosto. "O Senhor José Vieira, natural de Oleiros (Ponte da Barca), formou o rancho, em 1967 ou 68, que fazia parte da Associação Portuguesa. Em 1973, o Sr. Vieira convidou-me para fazer parte do grupo”, recordou Manuel Sousa. 

Foi aqui que Manuel Sousa se envolveu pela primeira vez no trabalho comunitário em Winnipeg, mas mal sabia ele que o rancho folclórico da Associação serviria de prelúdio para a formação da Casa do Minho. Aconteceu que, na época, o rancho não tinha equipamento para ampliar o som para que os irmãos Garcia e Luciano Matias, os acordeonistas que acompanhavam o rancho na altura, fossem devidamente ouvidos pelo público. Garcia Matias decidiu comprar um microfone e um conjunto de colunas e então propôs que, embora não cobrasse pelos ensaios, lhe pagassem 10 dólares por cada atuação. Os elementos do rancho concordaram prontamente mas o Sr. Vieira não conseguiu convencer a Direcção da Associação Portuguesa, que tinha dois administradores que se opunham veementemente à proposta. Disso resultou uma ruptura entre José Vieira e a Associação, que o levou a formar o seu próprio grupo denominado Casa do Minho Portuguese Folk Dances. Assim, a nova associação foi formada. José Vieira tornou-se o seu primeiro Presidente.

A rancho folclórico original, Estrelas do Norte

“Em 4 de maio de 1974, o Sr. Vieira registou o grupo no Folk Arts Council. Foi na garagem dele que fizemos os primeiros ensaios”, recordou Manuel Sousa. “Sou um dos fundadores, membro número 8. Não tínhamos membros pagantes e formamos o nossa próprio Executivo composta por voluntários. Demos-lhe o nome de Casa do Minho mas, na altura, pouquíssimos membros eram minhotos”, acrescentou.

Durante cerca de nove anos, o folclore manteve-se como a principal atividade da associação, mas o teatro, produzido pelos seus voluntários, e organizações de jantares para celebrar ocasiões especiais como a Páscoa e o Ano Novo também iam ganhando o seu espaço. “A nossa primeira peça [de teatro] foi em 1975. Depois começámos a comemorar o Carnaval, a Páscoa e o Ano Novo [numa época em que] esses jantares formais não eram organizados. Fomos nós que começámos. Alugávamos salões e os voluntários serviam”, disse Manuel Sousa. A primeira festa de Ano Novo foi realizada em 1976.

Embora a garagem de José Vieira se tenha tornado um local viável para os ensaios nos meses de verão, as coisas não pareciam tão promissoras quando o primeiro inverno chegou, obrigando o grupo a mudar-se para um local com aquecimento adequado. “O Bomba Club, na Sargent [Avenue] tinha uma cave espaçosa. Como o Sr. Vieira era cliente lá, eles concordaram em alugar o espaço para nós ensaiarmos. Pagávamos 20 ou 30 dólares por mês. Depois, alugámos uma casinha na Isabel [Street] onde ficamos até 1983. Depois, havia um senhor dono de uma padaria (Continental Bakery) que não usava o espaço do último andar. Alugámos por 100 dólares por mês”, lembrou Manuel Sousa.

É em 1983 que a Casa do Minho assiste a um crescimento significativo. Após nove anos de tentativas falhadas para participar do Folklorama de Winnipeg, a sua candidatura foi finalmente aprovada. Foi Manuel Sousa que ficou responsável por todo o processo, já que José Vieira se encontrava de férias em Portugal na altura. "O Senhor Vieira estava em Portugal e fomos chamados para uma reunião no Folk Arts Council. O meu inglês era fraco na altura e tive que trazer ajuda. Fizeram algumas perguntas e eu disse-lhes que representaríamos o norte de Portugal, de Valença a Coimbra. Disse-lhes também que os Açores e a Madeira não estavam bem representados [no folklorama] e que também os representaríamos. Eles disseram que considerariam a nossa participação e sugeriram que encontrássemos um salão para servir como nosso pavilhão. Sir John Franklin [Centro Comunitário] tinha um salão e uma cozinha separada. Lá, podíamos receber mais gente”, contou Manuel Sousa. Mais tarde, a cave da Imaculada Conceição, igreja católica portuguesa, tornou-se o local do pavilhão do Folklorama da Casa do Minho até que a organização adquiriu o seu edifício atual, em 1997.

Foi este evento que moveu a organização a mudar a sua designação para Centro Português Casa do Minho. Afonso Cruz tornou-se presidente, o falecido José Silva o tesoureiro, e José Vieira foi vice-presidente. A partir daí, a organização continuou a crescer não só em número, mas também na variedade de atividades que oferecia aos seus sócios e amigos. A sua participação no Folklorama tem sido consistente até à data, o número de ranhcos folclóricos cresceu para meia dúzia de grupos compostos por crianças e adultos de todas as idades, ocasiões especiais continuaram a ser celebradas, espetáculos de teatro, música e comédia agraciaram os palcos dos seus salões, e até o futebol passou a fazer parte do reportório em 1998. 

A Casa do Minho manteve a sua sede na Continental Bakery até 1985, altura em que se mudou para um estabelecimento com o nome de The Cave, situado nas traseiras de uma Pizzaria, com capacidade para cerca de 150 pessoas. “Descobrimos [que eles estavam a alugar] e mudámo-nos para lá. O rancho ensaiava ali, e realizavam-se celebrações menores, como batizados e festas mais pequenas. Para os eventos maiores, alugávamos outros salões. Depois, quando tínhams mais um bocado de dinheiro, comprámos um prédio na William Avenue. Era um restaurante mexicano. Construímos um anexo, usámos a cave para os ensaios do rancho e o piso principal para os eventos. Permanecemos na William Avenue por cerca de 10 anos e depois comprámos o salão em que estamos atualmente, na Wall Street. Fizemos obras de restauro, construímos uma cozinha, depois uma sala mais pequena para os sócios e um salão para os eventos maiores e para alugar”, disse Manuel Sousa. 

Antes da pandemia de Covid-19, o rancho folclórico adulto havia crescido para 14 pares, situação que obrigou a organização a ocasionalmente exlcuir alguns deles quando o grupo atuava em espaços menores. Também cresceu para seis ranchos folclóricos que incluíam adultos, jovens e crianças, e a introduziu um grupo composto apenas por casais. “O folclore é a base da organização”, afirmou com orgulho Manuel Sousa.

A pandemia afetou significativamente as organizações comunitárias em todo o país. Infelizmente, a Casa do Minho não está imune a estes contratempos. No entanto, os seus associados possuem a vitalidade e a dedicação necessárias para devolver à organização a prosperidade que desfrutava antes de Covid-19 mudar o mundo.   

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