Sociedade Portuguesa de Calgary

Data de Fundação:	7 de maio de 1971
Endereço:	4888 – 35th S. E. Calgary, Alberta T2B3M6
Telefone:	403-265-3560

PRESERVAÇÃO E PAIXÃO MANTÊM VIVAS AS TRADIÇÕES

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Os portugueses chegaram a Calgary no início da nossa imigração oficial para o Canadá, na década de 1950. Durante quase duas décadas, a comunidade cresceu em torno do trabalho na ferrovia CN, enquanto outros eram lavradores na periferia da cidade. Eventualmente, muitos dos que viviam no meio rural mudaram-se para o centro urbano, aumentando o número e a relevância da comunidade portuguesa e dando naturalmente origem à formação da primeira organização oficial luso-canadiana na região: a Sociedade Portuguesa de Calgary.

A Sociedade foi constituída a 7 de Maio de 1971 por seis homens que, infelizmente, já não estão connosco: João Pereira (mecânico), Francisco Enes (operador), Paulo Lestino (mecânico), José Pereira Jacinto (carpinteiro) , Manuel de Castro (servente na construção civil), e João de Lima (profissão não especificada) que faleceu recentemente. Nessa época, também se formou na cidade uma equipa de futebol – o Canadian Luso Soccer Club – que mais tarde se juntou à Sociedade e com ela permaneceu até aos dias de hoje.

Ao longo dos anos, a Sociedade proporcionou à comunidade portuguesa local oportunidades de participação em eventos culturais e sociais, mas também desempenhou o papel de ligar os descendentes dos pioneiros às suas raízes. Nelly Teofilo é uma dessas luso-canadianas que nasceu e cresceu em Calgary e que mantém o legado que lhe foi transmitido pelos pais, originários da ilha açoriana de São Miguel. Juntamente com o marido, Jaime Teofilo – que é o atual presidente da entidade – e dos filhos, Nelly tem dedicado inúmeras horas à Sociedade e continua a lutar pela sobrevivência de uma organização que precisa urgentemente do envolvimento da comunidade local.

“Não é fácil para o clube se sustentar. Eu diria que talvez 5% [da comunidade], se tanto, participa nos eventos. O futuro...não tenho certeza do que vai acontecer. Estamos a trabalhar com 100% de voluntários, e todos nós temos carreiras, ou temos negócios para administrar. É quase como administrar o nosso próprio negócio, mas de graça, porque é tudo voluntário. Isso é um desafio. Encontrar pessoas para tirar um tempo do seu dia, das suas vidas para ajudar a administrar uma organização como esta, é incrivelmente desafiador. As pessoas que são consideradas portuguesas integram-se na cultura canadiana. Sim, consideram-se portugueses, mas a realidade é que não participam em nenhum destes eventos. É incrivelmente desafiador atrair as pessoas a participar”, disse-nos Nelly Teofilo durante uma conversa realizada em maio de 2022.

Embora a Sociedade tenha testemunhado desafios semelhantes no passado, houve tempos em que teve maior participação por parte dos seus membros e apoiantes. A equipa de futebol, que ingressou na organização desde o seu início, esteve ativa por muitos anos. Começou com uma equipa de séniores que competia nas ligas locais mas, a dada altura, o interesse foi tal que se formou também uma equipa de sub-18. “Já nada disso existe. Penso que terminou há cinco anos. Estamos a tentar [trazer de volta]. O desafio que temos é que um pai que tem filho que joga futebol, participa nessas ligas que existem dentro da cidade. É difícil dentro da Sociedade porque precisaríamos de alguém para se dedicar somente a isso. Não quer dizer que não seja possível, mas é apenas o desafio de encontrar alguém para assumir essa responsabilidade. Adoraríamos que acontecesse”, Nelly desabafou.

Na década de 1980, um rancho folclórico independente foi formado em Calgary. No entanto, os seus elementos perceberam que seria do seu interesse aderir à Sociedade Portuguesa, uma medida que foi prontamente aceite pela Direcção da época. “Eles andavam de casa em casa e aí [perceberam que] estariam melhor na Sociedade Portuguesa. Temos o prédio físico onde eles podem ensaiar. Desde então, eles têm crescido substancialmente. Eles têm muitos elementos. O nome oficial é Grupo Folclórico Português de Calgary”, Teófilo informou. O grupo é acompanhado por cantadores e música ao vivo, representando a região do Minho.

A escola portuguesa, quase tão antiga quanto a própria organização, é uma atividade que resistiu ao tempo. Apesar de ter sido mais bem frequentado nas décadas de 70 e 80, continua a ter grande participação da comunidade, como nos contou Nelly Teofilo: “Os imigrantes que se estabeleceram aqui tinham mesmo uma grande paixão. Eles queriam manter a língua portuguesa. Eles traziam os seus filhos ao sábado e as crianças ficavam aqui durante quatro horas. Era uma oportunidade de conhecer outras pessoas da comunidade portuguesa. Sempre tivemos uma professora de português. O Consulado envia-nos os programas da escola. Oferecemos um programa completo. Temos dois professores para duas turmas, uma mais nova e outra mais velha. O Consulado visita-nos regularmente.”

Durante as primeiras décadas de existência, a organização alugava um salão em Inglewood, a parte histórica de Calgary, mas após a viragem do milénio mudou-se permanentemente para o local atual, do qual é proprietária. A mudança facilitou a sustentabilidade da Sociedade e permitiu o controle total sobre os seus assuntos. “Alugámos durante muitos anos e depois comprámos o prédio onde estamos atualmente. Temos um bar. Abrimos normalmente aos fins-de-semana. A realidade é que somos estritamente voluntários e, obviamente, os voluntários têm os seus empregos, durante a semana não estão disponíveis. Às sextas-feiras, tentamos colocar alguém lá porque há idosos que gostam de vir, tomar um café e gozar da companhia uns dos outros. Aso fins-de-semana, estamos abertos,” Nelly divulgou. O edifício tem o bar e um salão no rés-do-chão, e duas salas de aula para a escola portuguesa no piso superior. O segundo andar também abriga o escritório da organização.

Na sede da Sociedade, também há mais espaço para celebrar os eventos anuais que organiza. Estas iniciativas incluem a festa de São Martinho, a passagem de ano e a celebração do Dia de Portugal. “Somos a única organização da comunidade que faz a passagem de ano, e junta toda a gente. Em Calgary, temos três grupos: a Sociedade, a Filarmónica, e a Igreja. A celebração do Ano Novo é excelente. Toda a gente costuma vir a esse evento”, afirmou Nelly Teofilo.

Embora a passagem de ano tende a atrair grandes multidões, a celebração do Dia de Portugal continua a ser a principal iniciativa anual da organização. O sonho é levar o evento à Baixa e à comunidade em geral mas, para já, a Sociedade reúne membros de várias culturas, quer associados à comunidade portuguesa, quer simplesmente curiosos que desejam conhecer melhor a nossa cultura. O evento inclui atividades para jovens e adultos, espectáculos e gastronomia tradicional portuguesa. “No sábado, começamos com um jogo de futebol, um jogo amigável. De seguida, convidamos o Filarmónica. Eles marcham da sua sedo – é perto de nós, a apenas alguns quarteirões de distância. Eles vêm, em procissão, a tocar. Param em frente ao clube e depois tocam os hinos portugueses e canadianos. Levantamos cinco bandeiras: as bandeiras portuguesa, canadiana, da Província de Alberta, dos Açores e da Madeira. [A Filarmónica] costuma tocar após o hasteamento das bandeiras e depois a escola portuguesa tem uma atuação. Costumam cantar também em português. Depois temos o Grupo Folclórico Português. Ao longo do dia, oferecemos pinturas do rosto para as crianças, temos jogos para elas brincarem, assamos sardinhas e frango no churrasco, servimos caldo verde, e fazemos malassadas. Servimos comida o dia todo, até à noite. À noite, terminamos com um pouco de música. Temos voluntários do grupo folclórico, da direção do clube e da Filarmónica. Temos alguns canadianos que conhecemos e que também se juntam a nós. Idealmente, gostaríamos de levar o evento para a cidade, mas há muita logística envolvida nisso. Esse é o nosso objetivo de levá-lo além da comunidade portuguesa”, revelou Nelly Teofilo.

Embora os luso-canadianos que residem em Calgary não estejam tão envolvidos na vida da Sociedade como Nelly Teofilo e os elementos do Executivo gostariam, há esperança na nova geração. A escola portuguesa é um indício disso, assim como o rancho folclórico e a Filarmónica, duas componentes culturais que continuam a atrair muitos jovens luso-canadianos, tal como os filhos de Nelly Teofilo. “A minha filha entende muito bem o português. O meu filho é muito fluente em português”, Nelly afirmou, com orgulho.

Esperemos que o legado daqueles que aqui chegaram primeiro desperte nos jovens a paixão pela preservação e celebração das tradições e da cultura que lhes foram transmitidas. A Sociedade Portuguesa de Calgary estará lá para os apoiar. A sua sobrevivência depende disso.

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