Associação Portuguesa de Manitoba

Data de Fundação:3 de março de 1966
Endereço:659 Young St
Winnipeg, Manitoba
R3B 2T1
Telefone:(204) 783-5607

A PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA PORTUGUESA NO CENTRO DO CANADÁ

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Agostinho Bairos

O seguinte artigo foi escrito com referências de um documento compilado por Agostinho Bairos, ex-diretor da Associação Portuguesa de Manitoba e ex-Consultor Comunitário da Secretaria de Multiculturalismo de Alberta, intitulado ”Datas Principais na História da Associação Portuguesa de Manitoba”. A utilização, para referência, do referido documento foi consentida pelo referido autor.

A Associação Portuguesa de Manitoba, com sede na cidade de Winnipeg, é a organização mais antiga da província e do Canadá Central. Foi fundada a 3 de março de 1966 durante uma reunião realizada na 620 Elgin Street, em Winnipeg, e incorporada a 19 de abril do mesmo ano. Durante quase uma década, a associação foi a única promotora das tradições portuguesas em Manitoba, dando origem a muitos outros grupos e a vários eventos que reuniram a comunidade.

Durante o seu ano inaugural, a organização focou-se em criar alicerces que lhe permitiram construir um futuro sólido. Começou por alugar um espaço na 720 Langside Street, que serviu de primeira sede. De seguida, reconheceu o recém-chegado Padre Pedro Fernandes, o primeiro pároco oficialmente dedicado à comunidade portuguesa na cidade, oferecendo-lhe o estatuto de Membro Honorário, distinção que fortaleceu a relação entre a organização e a igreja. Em conformidade com o padrão registado no resto do país, a igreja sempre desempenhou um papel de elevada importância em cada uma das nossas comunidades portuguesas. Porém, a igreja por vezes carece de proximidade com as organizações culturais e sociais. Em Winnipeg, a Associação Portuguesa não só reconheceu o conceito como continuou a mostrar solidariedade e vontade de manter a relação, o que resultou em melhores resultados para a comunidade.

Os membros fundadores (imagem: página do Facebook da organização)

Um exemplo perfeito disso é o apoio que a Associação tem dado, ao longo dos anos, à Banda Lira de Fátima, filarmónica que nasceu na igreja em 1973 e que criou um vínculo permanente com a Paróquia da Imaculada Conceição. Em 1977, a Associação ofereceu a sua sede para a Lira de Fátima ensaiar duas vezes por semana e, em 2013, estendeu a oferta à utilização do seu salão, gratuitamente, para a banda organizar os seus eventos anuais. Em 2010, a Associação fez uma doação de 2,500 dólares a favor da banda.

O futebol foi o primeiro grupo a ser formado pela associação, apenas dois meses após a sua fundação oficial. No entanto, a equipa só foi registada um ano depois, a 31 de maio de 1967. Nos anos que se seguiram, a equipa de futebol disputou os campeonatos locais com dignidade e orgulho, mas sem vencer um troféu de renome. A 28 de outubro de 1972, foi organizado o primeiro jantar de apoio à equipa com o patrocínio do Supermercado Américo e, um ano depois, Leonardo Pereira foi nomeado Diretor Desportivo. Esta mudança ajudou o clube a tornar-se mais competitivo, mas, mesmo assim, foi preciso quase mais uma década para que conquistasse o seu primeiro grande título, quando venceu a Premiere Division de Manitoba, feito que repetiu em 1980. Uma década depois, a equipa fez a sua primeira viagem internacional após ser convidada a participar num torneio realizado nos Açores. Atualmente, a equipa de futebol APM é uma dos mais antigas da cidade de Winnipeg e continua a representar a associação com dignidade.

Durante o seu ano inaugural, os fundadores também formaram um rancho folclórico, denominado de Alegre, que foi apresentado aos associados a 23 de novembro de 1967. Um ano depois, a 26 de março, atuou pela primeira vez para o público. O Rancho Folclórico Alegre atingiu, num curto espaço de tempo, uma enorme importância cultural na cidade. Em 1972, foi selecionado para representar Portugal no prestigiado Folklorama, evento promovido pela autarquia que dá a conhecer as suas várias etnias . Mais tarde, a Casa do Minho também foi selecionada, em 1982, mas nos livros de História a Associação Portuguesa permanecerá para sempre como a primeira. Uma das ocorrências mais memoráveis do rancho ocorreu em 1987, quando o duque e a duquesa de York visitaram Winnipeg. Em representação do Rancho Folclórico Alegre, Celestino Alpestana e Carla Pereira dançaram o Corridinho Alma Algarvia.

Ao longo dos anos, o rancho folclórico atuou em vários locais da província de Manitoba, mas também viajou para outras cidades canadianas, como Toronto e Edmonton, e para os Estados Unidos da América. O interesse pelo grupo foi tal que a organização acabou por formar uma secção juvenil, que denominou de Rancho Juventude. Ambos os ranchos continuam a atuar para a comunidade local, mas também já viajaram juntos para atuar em várias localidades da América do Norte.

Foi na associação que se formou a primeira escola de português na cidade, em 1967. Em setembro de 1973, uma escola pública local ofereceu à organização três salas de aula e, um mês depois, foi lançado o primeiro curso de língua portuguesa. Foram necessários mais quatro anos para a escola ser reconhecida e receber apoio do Governo de Portugal. Nesse ano – 1977 – a escola ostentava um total de 146 alunos matriculados. Atingiu o auge no ano letivo de 1982-83 com mais de 300 alunos matriculados, para além de outros 250 que tiravam lições da língua na Associação Portuguesa (fonte: Perfil da Comunidade Portuguesa em Manitoba, por Agostinho Bairos, 1991). Vinte anos depois, a organização recebeu a visita da então Coordenadora do Programa de Língua Portuguesa na América do Norte, Dra. Emilia Mendonça. Durante mais de meio século, a escola tem ajudado milhares de jovens a aprender e a aperfeiçoar o seu português. A escola sofreu um revés durante a pandemia de Covid-19, embora continuasse a oferecer aulas online. Atualmente, a escola está instalada na sede da Associação Portuguesa.

Escola Portuguesa (imagem: página do Facebook da organização):

Na sequência da formação da equipa de futebol e do rancho folclórico, a Associação Portuguesa apresentou teatro pela primeira vez em 1968 com a peça Rosa do Adro. Em 1973, produziu O Pai Abandonado. Durante muitos anos, Carlos Neta e Maria José Correia dirigiram várias produções de drama e comédia que preencheram os palcos da associação e maravilharam os seus associados. Em 2001, Maria José Correia escreveu e dirigiu a peça O Redentor que foi apresentada no Centro Cultural Português.

O entretenimento tem, de facto, sido o foco principal dos vários executivos desde o nascimento da organização. Tem proporcionado aos sócios oportunidades de cultivar a cultura e as tradições da pátria. Um dos destaques, que ocorreu durante os anos iniciais da associação, é a visita do ator e produtor, Tony de Matos, para a exibição do filme O Destino Marca a Hora, uma longa metragem de extremo de sucesso que se tornou um marco cultural. Outras produções e atuações de relevância incluem Tertúlia do Fado de Coimbra, em 1990 e 1992, Roberto Leal e Dinis Cruz em 1991, Lenita Gentil e Trio Latino em 1996, Quim Barreiros em 2009, The Portuguese Kids em 2013, e muitos outros artistas de Portugal e da América do Norte, includindo os comediantes Fernando Rocha e João Seabra.

Outro grande empreendimento cultural ocorreu a 1 de dezembro de 1974, quando a associação inaugurou a sua biblioteca. Ao longo dos anos, cresceu em quantidade e qualidade com livros adquiridos ou doados por sócios e amigos da organização e por outras entidades. Em 2011, Sérgia Carvalho doou à biblioteca uma coleção de livros desportivos em memória do seu falecido marido.

A Associação Portuguesa foi extremamente diligente nos seus primeiros anos de existência, esforçando-se enormemente para servir os associados com atividades variadas. Uma delas foi a apresentação da Miss Portugal Winnipeg, em 1969. Maria Madalena Palmeiro (Vieira) tornou-se a primeira Miss. O evento ganhou tanta popularidade que continuou a crescer ano após ano. Outras vencedoras incluem Maria Manuela Castanheira (1970) e Lucinda Reis (1972). Em 1973, a associação decidiu anexar a iniciativa ao evento Folklorama – para o qual acabava de ser nomeado – e coroar as vencedoras com o título de Miss Portugal Folklorama. Milu Simões venceu a primeira edição e manteve a coroa no ano seguinte. Outras vencedoras dos primeiros anos incluem Fátima Fernandes (1975), Lourdes Simões (1976), Esmeralda Sousa (1978), Fernanda Ferreira (1979), Tina Camilo (1980), Helena Tavares (1981), Maria do Céu Gameiro (1982) , Ana Paula Neves (1983), Isabel Matias (1984), Teresa Cordeiro (1985), Belita Jorge (1986), Laudalina Amaral (1987), Suzana Azevedo (1988 e 1990) e Cália Caetano (1989).

São inúmeras as iniciativas culturais e sociais que a organização promoveu ao longo dos anos, das quais a maioria são pioneiras na comunidade. Uma delas é o Portuguese Community Picnic, organizado pela primeira vez em 1969 em Whitemouth. Em 1994, um grupo de sócios convenceu a associação a comprar uma propriedade localizada no município de Saint Laurent, junto ao Lago Manitoba. A direção votou favoravelmente e concluiu a compra do Parque Recreativo da Associação Portuguesa de Manitoba, mais conhecido como Parque Português. O piquenique anual já foi transferido para este local. No entanto, o parque também se transformou numa jóia da comunidade. Aqui, os luso-canadianos compram o seu próprio terreno e reúnem-se durante o verão para celebrar a nossa cultura e comungar com outros amigos e compatriotas.  

Outra iniciativa pioneira é o Bingo, iniciado em 1969 e jogado às sextas-feiras à noite. Sofreu algumas interrupções ao longo dos anos, mas encontrou sempre forma de regressar ao rol de atividades da organização durante as suas primeiras três décadas. Também em 1969, a primeira grande festa de passagem de ano de que registo existe, ficou esgotada e contou com a atuação do grupo musical Os Solitários. O grupo voltou a atuar no quarto aniversário da associação, a 7 de março de 1970. Em 1971, o primeiro Baile da Pinha foi organizado. A associação foi também a primeira a promover a celebração do Dia de Portugal, por vezes realizada no Parque Português.

Embora os homens sejam frequentemente creditados com alguns dos principais marcos iniciais da maioria das associações em todo o país, o papel das mulheres não pode ser ignorado. Atualmente, esses papéis não são tão definidos e aceites como antes, mas não se pode ignorar o facto de que certas responsabilidades foram muitas vezes atribuídas a um género específico. A Associação Portuguesa de Manitoba procurou encurtar a distância entre os sexos desde cedo através da inclusão e da implementação de várias iniciativas, incluindo a Miss Portugal. Embora a eleição de uma Miss hoje seja vista por alguns como forma de objetificar e sexualizar as mulheres, naquela época era vista como uma oportunidade de as empoderar. A associação soube adaptar-se aos tempos e aos novos ideais e, como tal, já não elege a Miss Portugal. Outros exemplos da importância do papel da mulher na organização são a nomeação de Lena Simões como professora de Língua Portuguesa, em 1969, a eleição de Zita Lopes para Vice-Presidente e consequente nomeação para Directora Executiva em 1992, a liderança de Maria José Correia com a companhia de teatro e, mais recentemente, a eleição de Fátima Carreiro como Presidente da organização.

O maior movimento de reconhecimento do papel da mulher na organização e na comunidade ocorreu a 10 de Junho de 1993, quando foi constituída a Liga Portuguesa da Mulher. Em setembro do mesmo ano, a Liga começou a operar a primeira creche exclusiva à comunidade. A Liga Feminina tornou-se mais independente da Associação Portuguesa nos últimos tempos, mas continua a utilizar o salão da organização para os seus eventos anuais. Embora continue a ser um grupo focado no empoderamento das mulheres, atualmente visa apoiar várias iniciativas filantrópicas por meio de angariação de fundos.

A Associação Portuguesa de Manitoba sempre fez verdadeiros esforços para apoiar diversos grupos e entidades da comunidade. Implementou o programa de assistência Contato da comunidade no início da década de 1980, apoia muitas vezes os seus associados e amigos de terceira idade com transporte para os seus vários eventos, e continua a angariar fundos para outras organizações comunitárias. Entre elas, conta-se os Veteranos Portugueses – formados dentro da associação em 2003 – que utiliza, de forma gratuita, uma sala na sede da organização para as suas reuniões regulares e para os seus eventos anuais. A associação tem ainda angariado fundos para diversos grupos e causas, como é o caso da participação na Semana Cultural da Casa dos Açores com a compra de bilhetes para os seus sócios no valor de milhares de dólares, apoio à Banda Lira de Fátima com um donativo monetário e a vítimas de desastres naturais como foi o caso do terremoto do Haiti, em 2010.

Uma organização dinâmica (imagens: página do Facebook da organização):

O trabalho e influência da Associação Portuguesa já ultrapassou as fronteiras de Manitoba. Entre os seus visitantes ilustres, contam-se o ex-Presidente da Região Autónoma dos Açores, Dr. João Bosco Mota Amaral, o ex-Secretário de Estado, José Lelo, o ex-Presidente da Região Autónoma da Madeira, Alberto João Jardim, a ex-Deputada para a Emigração, Manuela Aguiar, e o ex-presidente de Portugal, Jorge Sampaio. A organização também foi convidada a participar em vários eventos e conferências fora da Província de Manitoba, particularmente na década de 1980, depois que a organização solidificou o seu estatuto de líder na província. Em 1984, Mário Santos, então Presidente da Assembleia Geral, participou numa conferência em Otava e, nesse mesmo ano, António Tavares, então Presidente da Associação, deslocou-se a Portugal para participar numa conferência em Ovar. Em 1987, os diretores Luis Gameiro e João Pedro participaram na conferência LYNC, realizada em Toronto.

A história da organização está inegavelmente ligada aos espaços que ocupou ao longo dos anos. A Associação Portuguesa de Manitoba teve um início humilde numa casa de dois andares, situada na Elgin Street, mas acabou por se instalar num edifício imponente e numa localização ideal da cidade. No entanto, este foi um processo que exigiu tempo, paciência e esforço. Depois de se sediar no número 720 da Langside Street, ainda no seu ano de inauguração, as discussões sobre a compra de um imóvel começaram em 1967 e, a 7 de abril de 1973, ocorreu a inauguração da sua nova sede, situada na 586 Ellice Avenue. O prédio térreo, que hoje abriga o Centro Cultural West End, proporcionou à organização um ótimo espaço para organizar os seus eventos, tanto pequenos como grandes. No entanto, com o aumento do número de associados e a solidificação da associação, um espaço maior depressa se tornou prioridade. Em 1982, formou-se uma comissão virada para a construção de um novo edifício, liderada por António Tavares e, a 25 de julho de 1983, foi adquirido um imóvel situado na esquina da Notre Dame Avenue com a Young Street. A 8 de junho de 1985, realizou-se a cerimónia de lançamento da primeira pedra do novo Centro Cultural Português e, um ano depois, iniciou-se a construção oficial. O projeto, idealizado pelo arquiteto Gustavo da Roza e supervisionado pela Comissão da Nova Sede, foi financiado com doações da comunidade, empréstimos e subvenções governamentais. Em agosto de 1987, a Associação Portuguesa de Manitoba mudou-se definitivamente para o novo Centro Cultural Português, localizado no 659 Young Street, embora ainda em construção na altura. A inauguração oficial da nova sede ocorreu a 3 de março de 1988, com a benção do Monsenhor Pedro Fernandes, o primeiro pároco a servir exclusivamente a comunidade portuguesa em Winnipeg. Nesse mesmo ano, o Folklorama foi realizado aqui pela primeira vez. Em 2002, todas as dívidas relacionadas com a construção do novo edifício foram liquidadas e, um ano depois, a entidade adquiriu uma propriedade adjacente ao edifício para aumentar a sua capacidade de estacionamento.

O Centro Cultural Português (imagem: página do Facebook da organização)

Tal como acontece com todas as organizações luso-canadianas espalhadas pelo país, a Associação Portuguesa também sofreu vários desafios administrativos e outros contratempos ao longo dos anos. Alguns dos desafios iniciais incluíram a manutenção de um diretor executivo, pois alguns permaneceram no cargo por um curto período. Também experimentou desafios a nível de direção, que incluiram a dificuldade de formar um executivo antes da entrada para o novo milénio, em 1999. Nesse ano, vários esforços foram feitos pelos sócios da associação no sentido de criar um executivo, que culminou com a eleição de Mário Santos como presidente, Mark Dias como vice-presidente e Maria José Correia como secretária. No entanto, e embora tenham existido dificuldades, a associação sempre foi capaz de manter a sua relevância na comunidade.

A juventude também tem sido um foco importante da associação. Para além de criar o Rancho Juventude, em 1983 formou também o grupo juvenil Nova Geração da Associação. Dois anos depois, o grupo organizou, em conjunto com a Paróquia Portuguesa, a iniciativa “Bridging the Gap” que viu mais de 100 jovens de ambos os sexos viajarem para Lake of the Woods, no Ontário. Nos últimos anos, o grupo tem continuado a organizar e a participar em diversas iniciativas, entre as quais se destaca uma Conferência da Juventude realizada no arquipélago dos Açores.

Embora algumas organizações pioneiras em todo o país se debatem com a iminência de não terem capacidade de servir uma comunidade cada vez mais desinteressada, este não é o caso da Associação Portuguesa de Manitoba. Até à data, continua a ser líder na comunidade luso-canadiana de Winnipeg e Manitoba nos campos culturais, sociais, e desportivos.

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