Portuguese Canadian Association of Saskatoon

RESILIÊNCIA NUMA COMUNIDADE BASEADA EM LAÇOS FAMILIARES

Data de Fundação:Outubro de1989
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O primeiro grande contingente de imigrantes portugueses cujo destino era o Canadá, chegou a Halifax na década de cinquenta e rapidamente se espalhou por este vasto país. A maioria estabeleceu-se em Ontário ou em Quebec, enquanto outros se dispersavam por diferentes localidades na esperança de criar uma vida melhor para si e para as suas famílias. Inevitavelmente, um pequeno número estabeleceu-se em Saskatchewan para trabalhar para a CN Rail e, lentamente, começou a criar uma comunidade dinâmica e dedicada que continua a celebrar e a manter as tradições do velho país em honra desses bravos pioneiros. A Portuguese Canadian Association of Saskatoon está no centro deste pequeno mas resiliente movimento que pretende envolver e inspirar a mais nova geração de luso-canadianos.  

Jennifer Nunes é uma dessas jovens que nasceu no Canadá, mas que é extremamente dedicada à preservação do nosso património. Atualmente, é presidente da Portuguese Canadian Association of Saskatoon e lidera também o grupo que organiza as festividades em honra de Nossa Senhora de Fátima, celebradas na Igreja de Santa Maria. A sua família é originária do Faial – onde também viveu durante sete anos – e os seus avós maternos fazem parte do grupo de pioneiros portugueses em Saskatoon. O seu pai chegou mais tarde, em 1983, mas rapidamente se juntou a esse movimento não só ao proporcionar à comunidade um espaço comunitário quando foi co-proprietário do primeiro e único café português na cidade, mas também quando apoiou a criação tanto da organização social comunitária como do grupo religioso, que a sua esposa ajudou a fundar, em 1989.

“Fui a primeira pessoa da minha família a nascer no Canadá. A minha avó veio com o meu avô e com a minha mãe e os seus irmãos quando eles eram pequenos. A minha mãe tinha nove anos quando ela veio. O meu pai imigrou para o Canadá depois de se casar com a minha mãe, um ano antes de eu nascer. O meu pai imigrou em 83. Não havia uma comunidade grande, mas havia alguns que imigraram antes dos meus pais. Cerca de uma dúzia, e foi o tio da minha avó que os patrocinou para o Canadá”, disse Nunes durante uma conversa telefónica conduzida na primavera de 2022.

Durante os primeiros trinta anos, a comunidade reuniu-se em torno de eventos familiares e religiosos. No entanto, à medida que as famílias cresciam, também aumentavam as ambições. Alguns começaram a planear a fundação de uma organização comunitária que serviria de ponto de encontro para todos os imigrantes portugueses, seus descendentes e famílias recém-formadas, que já se estendiam a outras etnias. Simultaneamente, ocorria um movimento religioso, mas ainda sem total conhecimento de quem o havia de iniciar. “O que aconteceu é que a minha avó, Maria Silvina Silveira, foi a Fátima e comprou uma réplica de Nossa Senhora de Fátima. Ela trouxe-a para o Canadá. Tinha a intenção de a colocar numa igreja. […] A Igreja de Santa Maria aceitou a doação e, a partir de então, a minha avó e a nossa família começaram a organizar a festa de Nossa Senhora de Fátima. A minha avó fez a roupa dos dos pastorinhos, e então tínhamos crianças vestidas como os portugueses fazem em todos os lugares para as nossas procissões, e foi assim que começou. Foi em 1989 também”, contou Jennifer Nunes.

Simultaneamente, em 1989, planeava-se a fundação da Portuguese Canadian Association of Saskatoon. “A senhora que deu início à ideia foi a Senhora Maria Reis. Acho que foi um esforço de um comité, mas ela colocou a ideia à frente, assinou os papéis, pagou os custos que havia na época e depois formámos o nosso primeiro executivo”, disse Nunes.

A associação passou a promover encontros sociais e culturais que incluíam danças e a celebração das nossas festas tradicionais. Para além disso, criou um rancho folclórico, uma escola de língua portuguesa e uma equipa de futebol que competia a nível local. Recentemente, a festa de Nossa Senhora de Fátima também passou a fazer parte do portfólio da associação.

“Dos anos oitenta ao início do milénio, tivemos grupos folclóricos infantis que dançavam nas nossas festas e no Folkfest em Saskatoon. Portugal nunca foi suficientemente grande para ter um pavilhão próprio, então aliámos-nos ao Pavilhão do Brasil e tocávamos lá”, lembrou Nunes. O grupo representava várias regiões de Portugal mas focou-se mais na música e dança açorianas uma vez que os membros da comunidade eram maioritariamente oriundos desse arquipélago. “Queremos ter o rancho de volta e temos até adultos que mostraram interesse. Nós éramos as crianças, certo? Agora, alguns de nós estão interessados ​​em que ele regresse”, disse Nunes.

As aulas de língua portuguesa, que já não estão em funcionamento, também foram um elemento importante da organização. “Tínhamos aulas de português. Tínhamos tanto para adultos como para crianças, e até mesmo para algumas pessoas que precisavam disso para a universidade, mas agora a Universidade de Saskatchewan não precisa disso. Infelizmente, a nova geração perdeu o interesse, está ocupada. Paramos de ter as aulas porque não tínhamos números suficientes. No entanto, estamos realmente à espera, agora que a minha geração tem crianças menores de 10 anos e adolescentes, que eles possam estar interessados ​​em recomeçar, mas precisamos de um professor. O meus filhos estão muito interessados ​​na língua”, informou Jennifer Nunes.

Embora a organização nunca tenha recebido assistência dos governos de Portugal ou do Canadá para o seu programa de língua portuguesa, agora há uma forte possibilidade de que o Instituto Camões – que já está a par das necessidades da comunidade – passe a apoiar a organização com conhecimento e recursos.

Enquanto o rancho folclórico e as aulas de língua portuguesa estão nos planos de um eventual retorno, o futebol, que foi forçado a parar por causa da pandemia, deve recomeçar em breve. “Fomos convidados a fazer novamente este ano, mas decidimos fazê-lo no próximo ano. São homens e jovens Sub-15”, disse Jennifer Nunes.

A organização faz os possíveis para promover eventos regularmente, mas tal torna-se num desafio devido ao tamanho relativamente pequeno e à dispersão da comunidade pela cidade. “No que diz respeito à associação, são maioritariamente portugueses mas muitos canadianos vêm apoiar-nos. É embaraçoso dizer-lhe [quantas pessoas participam nos nossos eventos]. Temos entre oitenta e cento e cinquenta no máximo. Antes, talvez duzentos. Basicamente, temos a festa de passagem de ano, o Carnaval em fevereiro, um churrasco no Dia de Portugal, em outubro temos a nossa festa principal quando trazemos bandas de Edmonton ou Winnipeg para tocar e esse é o aniversário da associação. Em relação à Nossa Senhora de Fátima, é definitivamente mais multicultural agora, especialmente desde 2017, quando assumi. Agora é um evento da Diocese. Centenas de pessoas vêm de todas as nacionalidades que você pode imaginar. Temos a Nossa Senhora de Fátima em maio, quando fazemos procissão, missa e convívio, e em outubro temos missa e às vezes convívio”, disse Jennifer Nunes.

A associação nunca arrendou ou possuiu um local físico permanente para servir de sede. Aluga salões para realizar os seus eventos anuais e utiliza diferentes locais para apoiar nos treinos da equipa de futebol. Quando as aulas de língua portuguesa e o rancho folclórico voltarem a funcionar, a organização será obrigada a encontrar um local para apoiar essas atividades. No entanto, esse será um desafio positivo.

Embora hoje em dia as pessoas tenham a capacidade de facilmente se manterem ligadas a Portugal por meio da internet, a Portuguese Canadian Association of Saskatoon continua a desempenhar um papel crucial na preservação e celebração das nossas tradições, da nossa língua e dos nossos valores. “A chave é a associação. Sim, sentimos-nos [isolados]. Acho que sempre foi assim. Somos uma comunidade muito pequena enquanto comunidades maiores como Edmonton, que é a mais próxima de nós, podem ter eventos maiores. Nós fazemos-lhes visitas, participamos nas suas festas e vamos a Edmonton comprar comida portuguesa. Mas não temos nenhuma ligação com eles. Conhecemos os donos das lojas porque vamos lá com bastante frequência para comprar coisas, mas é só isso, essa é a extensão da nossa ligação com outras comunidades”, lamenta Jennifer Nunes.

O envelhecimento e o inevitável falecimento dos pioneiros e daqueles que ainda se sentem fortemente ligados a Portugal, representa um verdadeiro desafio para a sobrevivência da associação. No entanto, a segunda geração de luso-canadianos em Saskatoon ainda está muito ligada às suas raízes e tem demonstrado, como Jennifer Nunes sugeriu inúmeras vezes durante a nossa conversa, interesse em reabilitar algumas das atividades que outrora tornaram a organização e a comunidade culturalmente e socialmente próspera. O futuro da Portuguese Canadian Association of Saskatoon depende de Jennifer Nunes e dos seus homólogos. É uma tarefa difícil, mas a dedicação e empenho de Nunes e da sua comunidade não devem ser subestimados.

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