Casa do Benfica de Toronto

Casa nº 5 e a primeira fora de Portugal

Data de Fundação:15 de Junho de 1969
Endereço: 1751 Keele Street
Toronto, Ontario
M6M 3W9
Telefone:416-651-1548

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RESILIÊNCIA DE UMA JÓIA COMUNITÁRIA

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

A Casa do Benfica de Toronto é a primeira filial do gigante do futebol português fora de Portugal e a número cinco no mundo, uma distinção que lhe confere orgulho mas também responsabilidade. Ao longo dos anos, esta organização passou por várias fases mas a força de vontade dos seus membros e do seu Conselho de Administração, juntamente com o apoio do clube matriz em Portugal, ajudaram a manter o sucesso da Benfica House de Toronto. 

Embora a associação tenha desfrutado de um longo período de elevada estabilidade financeira, também passou por momentos extremamente difíceis que ameaçaram a sua sobrevivência. No que diz respeito ao desporto, também teve os seus altos e baixos, com surtos de grandes conquistas seguidos de momentos de inatividade. No entanto, a Casa do Benfica foi sempre capaz de se reinventar e de florescer como o está a fazer atualmente.  

Mário João Narciso é um diretor de longa data que tem ocupado diversas funções dentro da organização ao longo dos anos. Ele é também um dos arquitetos da primeira ressurreição da Casa do Benfica em Toronto. Em conversa com a Revista Luso-Ontário, em 2008, contou-nos um pouco da longa e ilustre História desta instituição.

“Foi um grupo de benfiquistas que, no decurso da celebração de um título nacional, teve a ideia de fundar a Casa do Benfica de Toronto.  Eram dez membros fundadores.  Somos a Casa número cinco e a primeira fora de Portugal.  A primeira sede do Benfica foi na College e Bathurst, mas com o aumento dos sócios mudou-se mais tarde para a Bathurst e Queen.  O Benfica foi a associação número um em Toronto a par do First Portuguese.  Mais tarde, a organização  comprou o prédio na Claremount, que custou cerca de um milhão de dólares.  A chegada de outros clubes e de outros estabelecimentos na comunidade fez com que o Benfica e o First passassem por dificuldades.  A Claremount foi a decadência do Benfica.  Eles tiveram que vender o prédio.  Durante três anos, a Casa do Benfica esteve fechada e depois mudou-se para a Robina, junto à St. Clair," recordou Mário João Narciso.

O edifício na Claremount parecia, na altura da compra, um investimento seguro, mas ocorreu num período em que a comunidade portuguesa conhecia um crescimento acentuado. Este fenómeno levou a que outras associações fossem formadas e que diversos estabelecimentos comerciais, como bares e restaurantes, começassem a surgir nas zonas da cidade onde os portugueses se haviam estabelecido. Então com mais opções, a comunidade deixou de depender dos eventos promovidos pela Casa do Benfica para se sentir ligada a Portugal. 

Do passado glorioso da Benfica House, os momentos mais memoráveis estão ligados aos bailes superlotados que ocorriam semanalmente na sede situada na Queen Street.  “A primeira vez que fui lá, não me deixaram entrar porque eu estava com calças de ganga”, lembrou Narciso por entre uma leve risada.  “Naquela altura, e mesmo na Claremount, algumas pessoas não conseguiam entrar. Esgotava facilmente porque era o Benfica… dezenas e dezenas de casamentos começaram nesses bailes.  Depois passaram a ser mais seletivos, rejeitando os jovens que gostavam de usar jeans e sapatilhas. . Nas festas de fim de ano, lembro-me que o Benfica tinha três ou quatro mil pessoas no Royal York (Hotel) e dava-se ao luxo de sortear um carro novo”, recordou, com nostalgia.

O folclore foi, em tempos de outrora, uma das componentes culturais mais importantes da associação.  Entretanto, deixou de existir. “O Benfica de Toronto teve um rancho folclórico durante muitos anos.  Comemorou o seu 25o aniversário, mas deixou de existir logo depois. O folclore representava o Benfica, vestido com as cores do Benfica.  O Benfica não representa uma região, representa um país. É um símbolo," disparou.   

Durante o seu apogeu, o Benfica de Toronto também se orgulhava em organizar um dos concursos de beleza mais concorridos da cidade. “Os concursos das misses do Benfica foram sempre os melhores da comunidade”, informou Narciso. 

Casa do Benfica de Toronto

Por cerca de duas décadas, que abrangeram a viragem do milénio, o futebol tornou-se na atividade mais importante da associação. Durante esse período, a equipa sénior masculina tornou-se na mais decorada da história da Associação de Futebol de Toronto (TSA), vencendo todas as competições por diversas vezes. 

Porém, nem sempre foi assim. Durante os primeiros cinco anos de existência, o Benfica não teve futebol. Foi em 5 que começou a competir nas ligas OSL (Liga de Futebol do Ontário) e TSA, “mas não há registos de vitórias ou resultados. Nada aponta para que tenhamos sido campeões de uma liga ou campeonato, mas vencemos torneios”, informou Narciso. “Entrei no futebol por volta de 95, quando a equipa estava na Segunda Divisão do TSA, e também tínhamos uma equipa de veteranos. Depois, subimos para a Primeira Divisão do TSA. A concorrência era forte na altura… Portugal United, Boavista. Em 99, começámos a ganhar tudo. Ganhámos a Taça e a Supertaça. Fomos campeões da TSA durante cinco anos consecutivos e conquistámos a Consuls Cup outros cinco anos. A Taça TSA, ganhámos quatro anos seguidos”, recordou Mário João Narciso. 

Mário João Narciso era o administrador dos assuntos para o futebol nessa época. Sob o seu comando, o Benfica de Toronto tornou-se numa das equipas de futebol mais fortes da Província, e possivelmente a melhor que alguma vez competiu ao nível da Associação de Futebol de Toronto. O sucesso da equipa de futebol fez com que a Direção delineasse objetivos mais audazes. Um deles era entrar na recém-criada Liga Profissional de Futebol Canadiana (CPSL), um campeonato que tinha o Portugal FC como representante do oeste de Toronto. “Em 2004, tínhamos as condições ideais para entrar na CPSL; tínhamos patrocinadores, tínhamos tudo preparado. Mas eles não nos deixaram entrar, e eu ainda não entendo o porquê. Foi então que decidimos passar para a OSL… éramos um grupo que gostava de ganhar, tínhamos uma equipa muito competitiva. No TSA foi interessante, havia mais rivalidade, havia mais audiência. Não me arrependo de ir para a OSL porque no TSA continuaríamos a ganhar. A OSL é mais competitiva… no primeiro ano fomos campeões regionais e depois terminámos sempre entre os três primeiros. No TSA era como uma liga portuguesa”, disse Narciso. 

Apesar de todas as conquistas, houve um título que Mário João Narciso não conseguiu colocar no armário de troféus: a Taça do Ontário. “Esse era o meu maior objetivo. Houve um ano que jogámos as meias-finais”, lembrou. 

No entanto, se alguns objetivos não foram alcançados, existem outras conquistas que jamais poderão ser apagadas da história. Uma delas ocorreu no ano de 2001, quando a Associação de Futebol de Toronto celebrava o seu centésimo aniversário. O Benfica venceu todas as competições durante esse ano comemorativo para o TSA: campeão, vencedor da taça, da supertaça, e da Taça Consuls. Foi a primeira vez na História da Associação de Futebol de Toronto que um clube venceu todas as competições num só ano.    

Com a saída de Mário João Narciso, a Casa viveu alguns anos de turbulência, tanto social como financeiramente. O futebol desapareceu e os sócios deixaram de visitar a sede, então localizada na St. Clair Avenue, com a mesma frequência. Criaram-se rumores de um fim inglório para a organização, mas os benfiquistas de Toronto não deixariam o Benfica morrer. 

Casa do Benfica da loja de Toronto

O amor dos adeptos benfiquistas pela instituição e pelo que ela representa para milhares de imigrantes foi crucial para o seu renascimento.  Em 2011, um grupo de simpatizantes fervorosos formou uma comissão ad hoc com o objetivo de saldar as dívidas e de devolver a Casa aos sócios.  A comissão encontrou uma situação financeira preocupante, com dívidas na casa das dezenas de milhares de dólares.  Cada membro do comité emprestou dinheiro à associação,  as contas foram pagas, e, finalmente, o caminho para a reconstrução estava preparado.

Em 2012, Mario Mirassol foi eleito Presidente do Executivo. Foi sob a sua liderança que a sede na St. Clair recebeu várias iniciativas e atividades, sempre bem concorridas. Foi também neste local que foi implementado um novo projecto de futebol de camadas jovens com equipas masculinas e femininas. 

Devido ao súbito interesse esmagador dos sócios e simpatizantes da Casa, o Executivo propôs, com sucesso, a compra de uma sede situada na Rogers Road, a leste de Keele. Nesse local, a adesão de visitantes tornou-se ainda mais significativa. Durante os jogos do Benfica, a nova sede transformava-se num mini Estádio da Luz. 

Foi nesta nova sede que um novo projeto foi iniciado sob a liderança de Mário Mirassol: Escola de Futebol do Benfica. A decisão foi tomada após um longo processo de estudo e consulta aos associados que, em assembleia, aprovaram a iniciativa. Porém, esta foi uma decisão que não reuniu consenso devido aos elevados custos operacionais, que incluiam o pagamento de uma cota ao Benfica e um salário a um treinador de futebol vindo de Portugal para administrar o projeto. João Oliveira, treinador da academia do Benfica em Portugal, tornou-se no primeiro Diretor Técnico da Benfica Soccer School de Toronto. No entanto, o projeto teve dificuldades em ganhar impulso e a chegada da pandemia de Covid-19 obrigou a escola de futebol a encerrar as suas atividades.

Mario Mirassol tornou-se numa fonte de novos projetos com o objetivo de enriquecer a organização e prestar o melhor serviço possível aos seus associados. Em 2018, propôs a compra da antiga Portugalia, na Keele Street. O prédio estava à venda por 1.6 milhão de dólares. Alguns consideraram a mudança muito arriscada, mas Mirassol garantiu um empréstimo privado que convenceu os associados. Nesse mesmo ano, a nova sede foi aberta ao público.

Porém, a pandemia de Covid-19 não só matou a escola de futebol como também quase forçou a organização a fechar permanentemente as suas portas. Mário Mirassol, que na altura era diretor desportivo numa direção presidida pela sua filha, Carina Mirassol, viu-se obrigado a coordenar a venda do prédio que a organização tinha adquirido a muito custo dois anos antes. Assim, acabara ingloriamente uma campanha de sucesso que levou a efeito em prol da Casa do Benfica. Contudo, não saiu sem antes negociar o aluguer do prédio, assegurando a permanência da organização no local. Este contratempo resultou na criação de uma nova Comissão Administrativa e, posteriormente, na eleição de um novo Executivo que está a trabalhar arduamente para revitalizar a organização.

Atualmente, a Casa do Benfica de Toronto segue as diretrizes exigidas pelo Benfica, em Portugal. A sua sede é um local dinâmico com visual que espelha muitos dos símbolos do clube mãe. Aqui, os benfiquistas continuam a apoiar uma organização que ganhou um espaço importante no campo associativo da comunidade e que urge ser preservada. 

Com ficheiros da Revista Luso-Ontário, 2008
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O dia em que o Benfica jogou com o…Benfica!

No dia 26 de junho de 2005, o Estádio London Cover Road Stadium acolheu um jogo que ficaria na memória para a eternidade. Ao final da tarde daquele domingo, o Benfica ganhou mas, inevitavelmente, também perdeu. Foi o dia em que o Benfica jogou contra o Benfica.

Foi o segundo jogo de mais uma eliminatória da Ontario Cup. O Sport London Benfica defrontava o seu homólogo de Toronto. O jogo começou para além da hora prevista devido a uma avaria no autocarro que transportava a equipa da Casa do Benfica de Toronto, mas valeu a pena esperar, pois ambas as equipas lutaram até ao último minuto para decidir qual dos Benficas passaria à próxima fase. Entretanto, a equipa do Clube Português de London assistia ao jogo tranquilamente com um lugar já garantido na fase seguinte, depois de ter batido o AEK London (1-0) na partida anterior.

Tony Campos, então repórter do Jornal Flash, fez uma extensa cobertura do jogo. Segundo o seu comentário, o Benfica de Toronto assumiu o comando do jogo desde cedo. A meio da primeira parte, e em apenas seis minutos, Sam colocou a equipa de Toronto na frente por dois golos sem resposta, resultado que persistiu até ao intervalo.

Na segunda parte, o Sport London Benfica entrou determinado a dar luta. Ao minuto cinco, poderia ter reduzido a diferença para um golo, mas foi o Benfica de Toronto que voltou a marcar aos dez minutos, desta vez por Castro, para fazer o 3-0. De repente com uma montanha enorme pela frente, os vermelhos de Londres mantinham-se determinados. Começaram a assumir o controlo do jogo e a criar algumas oportunidades de golo, que surgiam principalmente das laterais. O esforço foi recompensado aos 15 minutos com o 1-3, apontado por Jason Carrelas que, um quarto de hora depois, reduzindo a desvantagem para um golo. Os londrinos pressionaram até ao apito final, mas Pedro, o guarda-redes adversário, salvou os visitantes de perderem uma vantagem de três golos.

Na sua análise ao jogo, Tony Campos relatou que a primeira parte fora dominada pela Casa do Benfica de Toronto, mas que o homólogo londrino foi a melhor equipa na segunda parte. Segundo ele, a equipa da casa “acordou tarde demais”.

Imagem: Jornal Flash

Mário João Narciso, então presidente da Benfica House of Toronto, também foi treinador interino da equipa visitante naquele dia. Questionado sobre os seus comentários sobre o jogo, disse que “foi uma vitória do Benfica. Preferia defrontar o Sport London Benfica na final da Taça do Ontário, mas paciência. Penso que pelo que fizemos na primeira parte merecemos este resultado a nosso favor. Parabéns ao Benfica de London e obrigado por nos receberem em sua casa. Agora vamos trabalhar para tentar conquistar este troféu, que perseguimos há muito tempo. Talvez este seja o ano que o consigamos, com muito sacrifício, dedicação e, sobretudo, amor ao Sport Lisboa e Benfica, que é o maior.”   

Nuno Medeiros, treinador principal do Sport London Benfica, fez os seguintes comentários: “Pessoalmente, fiquei confuso com o futebol que a minha equipa exibiu na primeira parte, e que considero ser para esquecer, mas no segundo tempo penso que dominámos , marcámos e fomos mais objetivos, e perseguimos o golo até o último minuto. Apenas nos faltou um pouco de sorte, pois penso que que o empate no final dos 90 minutos seria o desfecho mais certo, mas é futebol.”

A campanha do Benfica de Toronto na edição de 2005 da Ontario Cup terminaria nas meias-finais, mas o clube voltaria a vencer a Toronto Soccer Association League. O Sport London Benfica, embora desapontado por ter sido eliminado tão cedo numa competição em que tinha atingido as meias-finais no ano anterior, terminou a temporada em alta ao vencer a Southwestern Ontario Soccer League pela primeira vez na sua história.

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