Associação Portuguesa do Canadá

Data de Fundação:7 de janeiro de 1956
Endereço: Rua Saint-Urbain, 4170
Montreal, Quebec
H2W 1V3
Telefone:514-844-2269
Email:apc4170@hotmail.com

A ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA PIONEIRA NO CANADÁ

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

A 13 de maio de 1953, o primeiro grande contingente de imigrantes portugueses para o Canadá atracava no Pier 21, em Halifax. Durante os anos que se seguiram até ao final da década de cinquenta, muitos outros chegaram e forma-se dispersando pelo país de acordo com as necessidades determinadas pelo Departamento de Imigração. Aqueles que desembarcaram em Quebeque, foram enviados principalmente para áreas rurais, mas, à medida que se adaptaram, depressa se mudaram para Montreal, onde havia mais oportunidades. Em 1955, já existia um número significativo de portugueses a residir na cidade. À medida que os números cresciam, os membros da nova comunidade começaram a reunir-se para recordar a pátria e celebrar a sua cultura. Este foi o prelúdio da primeira associação portuguesa no Canadá, formada oficialmente a 7 de janeiro de 1956, que assumiu o nome de Associação Portuguesa do Canadá (APC) – carinhosamente apelidada de “Associação”.

Esta ocorrência é relevante não só pela novidade, mas também porque desafiou o padrão que se viria a observar em todo o país. Na maioria das comunidades, embora grande parte das associações tenha nascido de ranchos folclóricos ou de equipas de futebol, os portugueses tendiam a reunir-se primeiro no contexto religioso. Esta foi a base principal para a maioria das associações que se formaram de costa a costa. Em Montreal, ocorreu o oposto: a associação antecede qualquer envolvimento com a igreja ou com grupos culturais ou desportivos, o que a torna ainda mais singular.

A organização demonstrou uma vitalidade tremenda desde a sua fundação, e procurou formar vários grupos e implementar atividades com o objetivo de servir os seus membros e promover a nossa cultura. Para além de se tornar na primeira associação a organizar-se corporativamente, também criou o primeiro rancho folclórico, a primeira banda filarmónica, o primeiro jornal de língua portuguesa e a primeira escola de português no Canadá. Também criou o Luso-Stars, uma equipa de futebol fundada em 1971 e a única equipa luso-canadiana a competir ao mais alto nível Na província do Quebeque, conquistando muitos troféus importantes ao longo dos anos. Na sede da Associação, foram muitos os grupos que encontraram lar temporário e muitos outros utilizaram a sua sede para celebrar festas e marcos importantes.  

O rancho folclórico da Associaçao foi o primeiro no Canadá

A maioria dos portugueses que reside na região de Montreal já teve, inevitavelmente, algum tipo de envolvimento com a Associação Portuguesa do Canadá. Alguns participaram em eventos ou simplesmente visitaram a sede para tomar uma bebida, enquanto outros assumiram cargos de liderança dentro da organização. Arlindo Vieira, residente de longa data em Montreal e atual Presidente da Assembleia Geral da APC, é um desses indivíduos. Nascido no município de Alcanena, Santarém, Arlindo Vieira chegou ao Canadá em 1973 e depressa iniciou a sua participação em trabalho voluntário na comunidade. O seu primeiro envolvimento com a APC aconteceu na década de oitenta, quando assumiu o cargo de Secretário do Luso Stars. “O meu primeiro contacto foi com o Luso-Stars, uma equipa de futebol que atingiu grande relevância aqui no Quebec, uma equipa que participou no escalão mais alto do futebol aqui no Quebec. Era a seção de desporto da associação”, contou-nos Arlindo Vieira durante uma teleconferência efetuada em janeiro de 1980.

Arlindo Vieira

Após uma interrupção devido a responsabilidades profissionais, Arlindo Vieira voltou a assumir um papel de liderança dentro da organização por volta da viragem do milénio, desta vez como Presidente da Assembleia Geral. “Foi uma fase posterior da minha carreira, quando tive mais tempo livre. A Associação passava por uma fase difícil. Houve quem criou um movimento para mantê-lo à tona porque é a associação portuguesa pioneira no Canadá. Foi um importante marco artístico, cultural e desportivo. Desempenhou um papel importante e as pessoas pensaram que não podiam deixá-la morrer”, apontou.

Durante muitos anos, a Associação foi sediada no centro da cidade de Montreal, mas mais tarde, em 1972, a oportunidade de aproximá-la da comunidade portuguesa surgiu quando uma sinagoga foi colocada à venda. Esta foi uma compra necessária não só para a preservação, mas também para o crescimento da organização. “Eles compraram por um bom preço […]. Precisava de uma grande reforma e o Ministério ajudou na época, mas a ajuda poderia ter sido mais substancial se houvesse um projeto mais robusto”, disse Arlindo Vieira.

A fachada da sede

A mudança, embora positiva, trouxe novos desafios à organização. Por um lado, a formação de outras organizações como o Clube Portugal de Montreal e a religiosa Missão Santa Cruz revelou-se uma competição que prejudicaria a capacidade de prosperidade da Associação. Adicionalmente, o facto de o prédio ser às vezes grande demais para o número cada vez menor de atividades levadas a cabo pela organização, traduziu-se num desafio financeiro ainda mais saliente. Por fim, o envelhecimento da população que retém laços sentimentais para com a Associação, também contribuiu para a redução do número de grupos, atividades e frequentadores. “É um prédio antigo, grande demais para as necessidades da associação, embora às vezes não tenha capacidade para receber eventos maiores. Tem capacidade para 150 pessoas. O prédio tem gastos significativos […] o que dificulta”, relembrou Arlindo Vieira.

O prédio tem três andares. O rés-do-chão alberga o bar onde são servidos almoços aos fins-de-semana e onde se realizam pequenas confraternizações. O salão principal está localizado no segundo piso e, mais acima, o último andar é muitas vezes alugado para gerar receitas adicionais. Recentemente, um incêndio destruiu grande parte do edifício que, com o esforço dos membros da Direcção e dos amigos e apoiantes da organização, foi reparado pouco antes da pandemia.

Embora a Associação tenha sido pioneira em muitas das facetas sociais, culturais e desportivas da comunidade portuguesa em Montreal, já não possui os grupos que a tornaram numa organização próspera. No entanto, essas iniciativas inspiraram outras pessoas da comunidade a criar um movimento que passou a moldar a nossa presença na região. O rancho folclórico original já não está no ativo, mas abriu caminho para outros na cidade que continuam a propagar a nossa cultura. A banda filarmónica que se formou no clube eventualmente saiu e tornou-se numa organização independente, assumindo o nome de Filarmónica Portuguesa de Montreal. A escola de português, aqui também criada, também se tornou independente e agora faz parte da Missão Santa Cruz.

Foi na Associação que os portugueses em Montreal se reuniram pela primeira vez

A famosa equipa de futebol Luso Stars também já não está no ativo. Para trás, deixa uma gloriosa história de troféus conquistados, mas sobretudo um sentimento de orgulho e de experiências vividas e testemunhadas pela comunidade portuguesa de Montreal. A equipa começou a competir ao mais alto nível na década de ointenta, vencendo o campeonato provincial mais do que uma vez. “Estava sempre entre as equipas de topo. Era uma equipa de prestígio […], uma instituição muito importante no futebol quebequense, composto principalmente por portugueses. Eles jogavam num dos parques mais importantes de Montreal, chamado Jeanne-Mance, que fica atrás do prédio da Associação. Tem lá um campo de futebol. Houve uma altura em que jogaram num estádio construído para o futebol americano, na Universidade McGill, e também num estádio chamado Autostade que agora foi demolido e que foi construído para a Expo 1980. Não tínhamos grande público, mas naquelas fases finais geralmente tínhamos muita gente”, contou Arlindo Vieira.

A Associação Portuguesa do Canadá também já foi o principal centro de espetáculos teatrais da comunidade. Ao longo dos anos, vários grupos foram formados dentro da organização, mas nenhum deles resistiu ao teste do tempo. “As pessoas cansam-se, os diretores têm que assumir várias tarefas. Isso é difícil. É admirável que não tenhamos fechado, é honroso. As atividades não atraem a geração mais nova, mais integrada a outros níveis, inclusive profissionalmente. A comunidade portuguesa não significa tanto para eles. Isso é um verdadeiro desafio”, lamentou Vieira.

Conceição Rosário

Durante as duas primeiras décadas de existência, a Associação conseguiu facilmente formar Direção. No entanto, com a chegada de novas organizações e com o envelhecimento dos fundadores, começou a tornar-se difícil atrair novos membros. “Os períodos mais difíceis foram durante os anos oitenta e noventa, quando passamos por alguma instabilidade e, às vezes, não conseguíamos formar um executivo. No entanto, fomos abençoados com uma senhora que foi presidente por muitos anos, Connie Correia, conhecida como Conceição Rosário, que foi a primeira mulher presidente de uma associação do género no Quebeque. Ela conseguiu formar um grupo e lançar uma renovação, um novo esforço. Ela foi capaz de fazer avanços positivos e trazer um período de otimismo. No entanto, todas as personalidades têm as suas virtudes e os seus defeitos e, no final, houve quem saísse por não se identificar com a liderança”, relembrou Arlindo Vieira.

A pandemia trouxe incerteza para todas as organizações comunitárias em todo o país. A Associação Portuguesa do Canadá não é exceção. A diminuição das atividades, a falta de grupos organizados e o contínuo declínio do interesse dos mais jovens da comunidade dificultam ainda mais a situação. No entanto, a Direção Executiva, aliada à influência de uma respeitada figura da comunidade como Arlindo Vieira, possui os ingredientes necessários para se regenerar.

A contribuição da Associação Portuguesa do Canadá para o mosaico cultural de Montreal está enraizada não só nos luso-canadianos que vivem na região, mas também em qualquer pessoa da população geral que se depare com algo português. Embora o passado não possa ser apagado ou esquecido, o futuro da organização está no ar. Recentemente, houve um movimento para unificar todas as organizações comunitárias portuguesas em Montreal sob o mesmo teto, mas o interesse diminuiu nos últimos tempos. Isso deixa a Associação, juntamente com as demais organizações comunitárias da cidade, em situação precária, mas não de forma alguma dependente desse projeto audaz, como explica eloquentemente Arlindo Vieira: “De 1956 a 1965, não tivemos outra associação portuguesa (em Montreal). Os encontros aconteceram aqui e atualmente continua a ser a associação mais importante para a nossa geração mais antiga. Essa é a salvação da associação. Como foi no passado quando passou por crises, a Associação foi a primeira a ser fundada e, se um dia desaparecer, será a última a morrer.”

Se notar erros ou deturpações no artigo, envie um e-mail para contact@lusocanada.com
Ajude-nos a escrever a nossa História. Contribua com o seu relato, memória ou experiência relacionada com esta organização enviando um e-mail para contact@lusocanada.com.