Clube Social Português da Nova Escócia

Data de Fundação:2000
Estado:Dissolvido (2019)
Localização enquanto ativo:Dartmouth

UMA HISTÓRIA À ESPERA DE SER CONTADA

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Quando cheguei ao Canadá no longínquo ano de 1991, rapidamente fiquei fascinado com a quantidade de portugueses que aqui viviam e prosperavam. Naturalmente, questionei-me sobre a nossa influência para além dos limites da área metropolitana de Toronto. Em vez de voar para o sul, em busca do sol, durante as férias, comecei a viajar pelo Canadá em busca de vestígios da nossa presença. Em 2002, viajei para o leste. No início, fiquei entusiasmado com a perspectiva de visitar o Pier 21, mas depois deparei-me com uma descoberta que me surpreendeu ainda mais: uma organização comunitária portuguesa.

Naqueles dias, as páginas amarelas ainda eram de elevada utilidade. Cada vez que chegava a uma cidade diferente, tinha o hábito de parar numa cabina telefónica para as folhear, primeiro em busca de organizações sob a letra P e depois, se nada encontrasse, à procura de nomes portugueses inequívocos como Ramalho ou Oliveira. Em Dartmouth, um passo a leste de Halifax, segui o meu ritual. Para minha surpresa, lá encontrei sob a letra P: Portuguese Social Club of Nova Scotia. O Pier 21 podia esperar!

Liguei para o número, mas sem resposta. Então, anotei o endereço e conduzi para lá. Encontrei o local deserto. O Pier 21 voltou a ser um destino viável enquanto ganhava algum tempo na expectativa de regressar mais tarde e encontrar alguém no clube. Porém, depois de muita espera e de muitos outros telefonemas, não tive sucesso. Deixei uma mensagem detalhada e, para assegurar-me de que esta visita não ficaria pelos campos da memória, deixei também uma nota a pedir para me ligarem. O que pretendia depois, ainda não sabia muito bem. Para já, a minha curiosidade era suficiente.

Tinha acabado de chegar a Toronto quando o meu novo Motorola Razr (lembram-se deste espécime de tecnologia?) tocou. Era o presidente do Clube Social Português da Nova Escócia – infelizmente, o nome do senhor escapa-me. Senti-me eufórico e decidi que precisava de mergulhar na experiência de participar em algumas das atividades da organização. Mas não o queria fazer sozinho.

Acontece que, na altura, eu era Vice-Presidente para o Desporto da Associação Migrante de Barcelos, em Toronto. Nessa temporada de 2002, estávamos a realizar uma campanha memorável na Toronto Soccer Association League com o Gil Vicente FC, e pensei que uma viagem a Halifax criaria um incentivo adicional para que pudessemos terminar o campeanato no topo da tabela. Colocámos o plano em prática e, numa quinta-feira à tarde de setembro de 23, iniciámos vinte e três horas de uma viagem de autocarro que seria extremamente cansativa, mas incrivelmente divertida.

Chegámos a Halifax na sexta-feira à noite, arrumámos as nossas coisas no hotel e depois rumámos ao Clube Português para participarmos num jantar memorável que incluiu as inevitáveis ​​sardinhas e jorros de vinho tinto.

Houve um momento em particular que se tornou em tema recorrente de conversa, até aos dias de hoje, para aqueles que fizeram parte dessa viagem. Tradicionalmente, quando AM Barcelos visita pela primeira vez outra organização, entregamos o Galo de Barcelos, símbolo da nossa terra natal, como presente. Havia chegado essa hora da noite. Subi ao palco para agradecer à Direção local e a todos os presentes pela tremenda hospitalidade e depois, de forma tradicional, presenteei o Presidente com um galo gigante que se acompanhava por uma placa. Ele leu a placa para a multidão, que aplaudiu efusivamente. Depois, entregou-me uma placa em nome do Clube Social Português e, ao fazê-lo, encostou-se ao meu ouvido e sussurrou: “Está em branco. Não tive tempo de escrever nada.” Aproximei-me do microfone para agradecer o gesto, mas a multidão começou a pedir que eu lesse a placa. “Lê, lê”, todos gritavam. "Lê a placa!" Olhei para o presidente e anunciei: “Acho que seria melhor se o presidente a lesse”. Ele pegou na placa e murmurou algumas palavras improvisadas, seguidas de um aplauso ensurdecedor. A nossa comitiva não parava de se rir do episódio quando lhes mostrei a placa em branco que trouxemos na camioneta para Toronto.

Aquela noite foi épica. Tão épica que, no dia seguinte, cancelámos planos para jantarmos num local famoso em Halifax de modo a regressarmos para mais uma noite inesquecível no clube. Antes disso, porém, jogámos uma partida de futebol contra um clube local. A ressaca da noite anterior empurrou-nos para uma vitória frente a uma multidão de luso-canadianos que nos embalaram durante os 90 minutos.

A viagem a Halifax permanece como uma das melhores lembranças que tenho como voluntário na nossa comunidade. Só gostaria que, naqueles dias, tivéssemos a mesma capacidade de nos mantermos ligados como temos agora, porque perdi todos os contatos que fiz nessa viagem. Nessa época, o e-mail estava a ganhar popularidade, as mensagens de texto começavam a ser meio de comunidação e as redes sociais ainda estavam por inventar. O meu Motorola faleceu e, com ele, os números de telefone dessas pessoas que nos acarinharam tanto.

Um evento na casa final da organização (fonte: página da organização no Facebook)

Como resultado, estou agora a pagar pela minha incapacidade de manter contato com essa gente maravilhosa. Há cerca de um ano que tento entrar em contato com alguém que me possa ajudar a relatar a história do Clube Português da Nova Escócia, mas ainda não tive sucesso. Sim, já conversei com algumas pessoas que encontrei por outros meios, mas aquelas que tiveram a gentileza de me dar alguns minutos do seu tempo ou moram noutro lugar ou não conhecem ninguém que me possa ajudar.

Sei que a organização mudou do prédio opulento, onde socializámos com a comunidade local durante duas noites épicas, para outro local menor. Também sei que o clube encerrou as suas atividades em 2019. Por fim, lembro-me que o senhor que presidia à organização na altura da nossa visita era professor de uma das universidades em Halifax.

Ainda tenho esperança de encontrar alguém que me possa ajudar a fazer justiça ao Clube Social Português da Nova Escócia, para que a sua história e a história das pessoas que o fizeram prosperar por algumas décadas sejam contadas. Se você é uma dessas pessoas ou conhece alguém que possa ajudar, entre em contato connosco enviando email para contact@lusocanada.com.

Vamos continuar a escrever história, juntos!