Associação Saudades da Terra Quebequente

Data de Fundação:Janeiro de 1997
Telefone:514-237-3994
Mídia social:https://www.facebook.com/quebequente

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Em dezembro de 1996, a ilha açoriana de São Miguel foi atingida por uma enchente devastadora que deixou muitos sem abrigo e sem as necessidades básicas da vida. Um mês depois, a meio oceano de distância, um movimento de solidariedade para apoiar essas vítimas transformou-se numa organização social e cultural permanente que pretende representar a vila de Ribeira Quente, em São Miguel. A partir deste início humilde, Saudades da Terra Quebequente rapidamente se transformou num marco da comunidade luso-canadiana de Montreal.  

O atual presidente, Roberto Carvalho, embora não seja oficialmente um dos sócios fundadores, participou sempre nas iniciativas da organização. Após a sua chegada a Montreal vindo da Ribeira Quente, em 1991, começou imediatamente a participar nos diversos eventos comunitários e, durante algum tempo, foi voluntário na Associação de Pais local. No entanto, foi com a sua participação no Saudades da Terra Quebequente que deixou a sua maior marca na comunidade portuguesa de Montreal.

“Tudo começou com as enchentes [em São Miguel], em 1996, quando muitas pessoas perderam as suas casas. Formamos um grupo para angariar fundos e comprar roupas e tudo o que fosse necessário. Então, em 1997, a associação foi registada no governo. A associação representa a Ribeira Quente, em São Miguel, mas a maioria dos nossos sócios são de fora daquela vila, para ser sincero”, começou por nos dizer Roberto Carvalho durante uma conversa telefónica em janeiro de 2022.

Na tentativa de celebrar as tradições da Ribeira Quente, a Direcção da associação decidiu organizar eventos que se assemelham aos da velha aldeia. De acordo com Carvalho, a vila tem duas grandes comemorações anuais: Festa do Chicharro e as festas de São Paulo, o seu padroeiro. “No início, estávamos um pouco apreensivos com a festa do chicharro porque não tínhamos a certeza de como as pessoas iriam responder. Tornou-se muito popular e até ultrapassou fronteiras. Uma vez, tivemos cerca de novecentas pessoas presentes. Você imagina como é preparar peixe para novecentas pessoas? Assim que terminava uma festa, as pessoas já estavam marcando para o ano seguinte e, muitas vezes, tivemos que recusar gente porque não tínhamos mais espaço”, afirmou Carvalho, orgulhoso.

Para além de realizar os seus próprios eventos sociais e culturais, Saudades da Terra Quebequente também colabora com outras organizações comunitárias. Em 2007, passou a ter um papel crucial nas celebrações das Festas do Senhor Santo Cristo em Montreal, realizadas na igreja de Santa Cruz, um passo que impulsionou a associação a novos patamares. “Quando assumímos as Festas do Senhor Santo Cristo, o evento não ia bem. Embora eu respeite as bandas filarmónicas e os grupos folclóricos, sentimos que precisávamos de um artista de renome [para atrair mais pessoas]. No primeiro ano, organizámos uma angariação de fundos e fizemos dezoito ou dezenove mil dólares. Também tivemos o apoio de duas grandes empresas. Nesse primeiro ano, o Jorge Ferreira atuou no sábado, seguido das bandas filarmónicas e dos ranchos folclóricos. Tivemos mais de cinco mil pessoas presentes naquela noite de sábado. No domingo, Maria do Nordeste atuou depois da procissão. Foi um grande sucesso. Fizemos mais de quarenta mil dólares quando, antes, o evento fazia cerca de dois ou três mil. Trouxemos uma mentalidade diferente e conseguimos atrair mais pessoas”, disse Roberto Carvalho.

Saudades da Terra Quebequente tornou-se uma organização verdadeiramente versátil, não só ao realizar eventos festivos como também ao promover iniciativas sociais e culturais de relevância. A área de entretenimento é exemplo perfeito disso. Ao longo dos anos, passaram por aqui músicos de renome como Jorge Ferreira, Starlight, Zé Amaro, Jorge Guerreiro e As Bombocas. A associação faz também um esforço genuíno para reconhecer as personalidades que voluntariamente doam o seu tempo para contribuir significativamente para a preservação e divulgação da cultura portuguesa. “Às vezes são pessoas da nossa aldeia. Uma vez, reconhecemos membros de nossa comunicação social comunitária porque eles tiram tempo de suas vidas para cobrir os nossos eventos. Aqui, não homenageamos apenas doutores, mas também homenageamos aqueles que muitas vezes são esquecidos pelos nossos governos. Honramos essas pessoas aqui porque se não fossem as associações, a nossa cultura não seria mantida”, disse.

Embora as componentes sociais e culturais sejam as prioridades da associação, o desporto também já ocupou aqui o seu lugar. Durante cerca de quinze anos, Saudades da Terra Quebequente ostentou uma equipa masculina de futebol que competia nas ligas locais. Embora nunca tenha conquistado um troféu importante, sempre se classificou na primeira metade da tabela e até ganhou alguns torneios. Eventualmente, a equipa abondonou o futebol competitivo e passou a disputar jogos amigáveis contra outras equipas da cidade, mas também viajou para Toronto e para os Estados Unidos da América.

Enquanto a maioria das associações luta para aumenta a adesão dos seus associados um pouco por todo o país, Roberto Carvalho sugeriu que este não é o caso com Saudades da Terra Quebequente. De facto, muito pelo contrário. “Há muitos jovens que frequentam os nossos eventos. Tentamos oferecer o que eles gostam e ouvir as coisas que eles querem. Nós deixamos-los falar, expressar as suas opiniões. Se você vir as fotos das nossas festas, vai ver lá muitos jovens. Eles até servem às mesas e estão sempre a perguntar quando é o próximo evento para que puderem ajudar a servir novamente”, disse Carvalho para depois complementar, orgulhoso: “Todos falam português. Essa é uma riqueza que temos aqui no Quebeque. Noventa por cento dos jovens da comunidade portuguesa falam português. Os meus filhos nasceram aqui e falam português. A minha esposa nasceu aqui e fala português. Eles são muito orgulhosos disso”.

Saudades da Terra Quebequente tem um grupo dinâmico de voluntários

A pandemia afetou todas as organizações comunitárias pelo país fora. Embora Saudades da Terra Quebequente não esteja imune a este fator, o impacto não foi tão substancial como em outras organizações. Por um lado, o facto da associação não alugar ou possuir um espaço permanente significa que não houve perda financeira. Agora que o mundo voltou à normalidade, os membros da Direção estão ansiosos por retomar as atividades. “O último evento foi em fevereiro de dois mil e vinte. Queremos organizar algo, talvez ao ar livre, para comemorar o nosso vigésimo quinto aniversário”, afirmou Carvalho.

Embora a organização prospere, Roberto Carvalho não ignora para as realidades do cenário que afetam as nossas comunidades portuguesas no Canadá. Acredita que os nossos grupos culturais, como as bandas filarmónicas e os festa do chicharro folclóricos, são o principal meio de manter nossa cultura viva, mas teme que não estejam a receber apoios suficientes por parte daqueles que deveriam nteressar-se pela preservação da nossa cultura no Canadá. "Quando os ranchos e as filarmónicas deixarem de existir, a nossa cultura também vai desaparecer. Podemos sempre contar com o apoio do nosso povo mas os políticos só se lembram das associações quando precisam delas. Eles vêm para 'vender o peixe', as pessoas aplaudem, mas depois vão embora e esquecem tudo. Isso deixa-me triste. Precisamos de continuar a pressionar os nossos filhos a se envolverem porque, sem eles, tudo isto vai acabar”, opinou.

Saudades da Terra Quebequente celebra vinte e cinco anos de serviço público voluntário. Tal como a maioria das associações comunitárias portuguesas no Canadá, continuará a lutar pela sua sobrevivência mas, tal como sugeriu Roberto Carvalho, a questão é: até quando?

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