Sporting Clube Português de Montreal

Data de Fundação:1982
Filiação:Subsidiária 144
Estado:Dissolvido

Breve História

Versão de Áudio (disponível apenas em inglês):

Foi no longínquo ano de 1982 que o Sporting Clube de Portugal ganhou representação em Montreal depois de Romano Viegas e Alfredro Carreira, entre outros, fundarem uma filial do gigante do futebol português na cidade. Mais tarde, tornar-se-ia a Filial número 144 dos leões de Lisboa. A organização testemunhou muitos anos de sucesso, mas, em 2010, acabou por sucumbir ao baixo número de sócios, e entrou no domínio da História.

Dinis Dias Tibúrcio, um eterno Sportinguista, foi um elemento crucial dentro da organização quando assumiu o comando com a intenção de a devolver aos tempos áureos numa altura em que esta testemunhava a decadência. Infelizmente, os seus esforços ​​não impediram a dissolução do clube. "Foi difícil. Decepcionou-me muito porque fui para o Sporting para ajudar, mas depois não tive escolha e acabei por fechá-lo”, disse-nos Tibúrcio durante uma conversa telefónica em janeiro de 2022.

Natural da Freguesia de São Bento, concelho de Porto de Mós, Dinis Tibúrcio chegou a Montreal a 29 de Maio de 1971. Dois anos depois, juntaram-se a ele a esposa e os seus dois filhos. Em 1978, colocou o seu espírito empreendedor em marcha e abriu o Épicerie Caravana, um supermercado que se tornou extremamente popular dentro da comunidade portuguesa. Tibúrcio foi proprietário do estabelecimento por largos anos até ser forçado a reformar-se por problemas de visão.

Embora não tenha feito parte do grupo de membros fundadores do Sporting em Montreal, Dinis Tibúrcio recorda os dias gloriosos dos anos oitenta, quando a organização atingiu o seu ponto alto. “Quando o FC Porto jogou a final da Taça dos Campeões contra o Bayern de Munique, em 1980, o Sporting comprou uma antena parabólica com cerca de dezoito ou vinte pés de diâmetro. Era enorme. Custou dez ou doze mil dólares na altura. O primeiro jogo que mostrámos com essa parabólica foi o Porto contra o Peñarol de Montevidéu. O jogo começou por volta da meia-noite ou uma da manhã”, lembrou. Foi o primeiro de muitos jogos que lotaram por completo a sede do clube. Essa tendência manteve-se por muitos anos e representou uma importante fonte de receita para a organização. “Costumávamos comprar muitos jogos, incluindo jogos da Liga dos Campeões. Cobrávamos dez dólares à porta e tínhamos sempre por volta de 1987 ou 10 pessoas. Funcionou muito bem durante muito tempo, mas depois as pessoas começaram a ver os jogos em casa e tínhamos lá cada vez menos gente”, relatou Dinis Tibúrcio.

Segundo o Sr. Tibúrcio, a organização teve a oportunidade de adquirir sede própria, mas o Executivo da época decidiu não avançar com a compra por acreditar que aquele não era o local ideal. “Decidiram mudar-se. Podiam ter comprado o imóvel, mas decidiram que não correspondia à visão do clube”, recordou Dinis Tibúrcio. Este parece ter sido um importante ponto de viragem que levou anos para se manifestar.

A organização estabeleceu-se no Saint Laurent Boulevard, por cima da sucursal de um banco. Embora este fosse o local perfeito, o preço do aluguer rapidamente se tornou num problema. “Eles aumentavam a renda uma certa porcentagem todos os meses. Começámos a pagar pouco mais de mil dólares e, quando saímos, estávamos a pagar 2,500. Estivemos lá durante cinco anos, mas não era sustentável”, disse Dinis Tibúrcio.

Sportinguistas num evento em Montreal

Foi por essa altura que Dinis Tibúrcio integrou a organização como diretor. Embora nunca tenha assumido oficialmente o papel de presidente devido à sua deficiência cada vez mais acentuada, ele foi sempre o responsável máximo. “Em outubro de 1998, alguém do Sporting apareceu na minha loja e começou a dizer que o clube ia fechar, que as coisas estavam más, que devia ajudar a ressuscitá-lo. O clube estava em frangalhos. Havia contas a pagar, nada estava a ser pago”, informou.

Dinis Tibúrcio aceitou o desafio.

Durante algum tempo, houve esperança. As dívidas foram liquidadas e a organização mudou-se, em 2001, para um local com uma renda acessível. No entanto, com o decorrer do tempo, o preço do aluguer foi aumentado para números que o clube não era capaz de suportar. Para acentuar ainda mais o descalabro, o número de pessoas que visitavam o clube começou a diminuir perigosamente. “Não conseguimos encontrar ninguém para fazer parte da Direção. Todos diziam que ajudariam, mas ninguém queria que o seu nome fosse associado à organização. Disse-lhes que corríamos o risco de fechar, que não seriamos capazes [de manter o clube sem apoio]. Fizemos uma reunião, preparámos a papelada e, no dia 6 de março de 2010, fechámos o clube”, relatou com tristeza Dinis Tibúrcio.

Para além dos eventos promovidos na sede do clube, outras iniciativas de relevo foram implementadas ao longo das suas quase três décadas de existência. Desde a sua fundação, o clube formou equipas de futebol junior e sénior. Enquanto os adultos desfrutaram de relativo sucesso, a equipa juvenil foi extremamente competitiva, arrecadando inúmeros troféus em diversas competições. A sua conquista mais memorável foi o título de campeão da Província de Quebeque em Juniores. Porém, o futebol deixou de fazer parte das fileiras do clube na década de noventa.

“Tenho a consciência limpa. Nunca fiquei com um cêntimo e tudo o que fiz foi para ajudar o clube. Ainda hoje existem sportinguistas que vêm ter comigo para me agradecer pelo que fiz pelo Sporting. Estou triste por ter acabado. As pessoas que chegaram aqui nos anos sessenta e setenta eram dedicadas, mas a nova geração não tem interesse. Tenho 73 anos. Aqueles que fundaram o clube tinham mais de quarenta anos na altura. A maioria já faleceu”, lamentou.

Embora o Sporting Clube Português de Montreal já não tenha presença física na cidade, continua vivo não só nas pessoa daqueles que dedicaram horas infindáveis ​​à sua missão, mas também através das histórias que precisam de continuar a ser contadas sobre aqueles que fizeram parte da organização e dos sucessos alcançados durante três décadas memoráveis.

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