Sport Montreal e Benfica

Filial nº 25 do Sport Lisboa e Benfica

Data de Fundação:16 de Setembro de 1982

UMA JÓIA COMUNITÁRIA QUE SE ADAPTA AOS TEMPOS

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

Em mil novecentos e oitenta e dois, muito antes da internet e das caixas android invadirem o mercado, os benfiquistas em Montreal dependiam de gravações em cassete para assistir ao seu adorado Sport Lisboa e Benfica. Foi a partir destes encontros que surgiu a ideia de formar uma filial do gigante do futebol português em Montreal. Um grupo de mais de trinta homens reservou mesa para jantar no restaurante Pavilhão Espanhol e, voilá, o Sport Montreal e Benfica foi fundado - XNUMX de setembro de XNUMX é a data oficial de fundação.

Carlos Fernandes fazia parte deste grupo. Nascido em Castelo Branco, chegara a Montreal quatro anos antes para casar com o amor da sua vida, que conhecera em Portugal quando ela estava de férias. Apesar de ter feito parte do grupo que formulou a ideia de uma representação do Benfica em Montreal, não pôde estar presente naquele jantar memorável devido a outros compromissos.

Carlos Fernandes

Numa conversa telefónica conduzida em janeiro de XNUMX, Fernandes começou por recordar aqueles primeiros tempos: “Na altura, um piloto da TAP trazia cassetes com jogos gravados. O primeiro foi o Benfica-Roma. Então, íamos à Associação Portuguesa para ver o jogo gravado três ou quatro dias depois de ter sido jogado. Naquela época, já pagávamos vinte dólares. Foi aqui que começamos a pensar em formar o Benfica. Fizemos duas reuniões e depois organizámos aquele jantar para formar o clube. Foi realizado no Pavilhão Espanhol, um restaurante da propriedade de um benfiquista. Todos os indivíduos que participaram nesse jantar são considerados sócios fundadores.”

A organização foi oficialmente reconhecida pelo clube mãe em Portugal e distinguida como Filial número 25. Crispim Silva foi o primeiro presidente eleito.

Durante quase duas décadas, a organização alugou espaços diferentes para receber os diversos benfiquistas que residiam na região. Inicialmente, ocupou um salão de pouco menos de mil pés quadrados, onde permaneceu durante os primeiros quatro anos. À medida que o número de sócios e o interesse cresciam, também aumentava a necessidade de encontrar um espaço maior. Em 1986, alugou um local com o dobro da capacidade, onde permaneceu pela década que se seguiu. Foi aqui que, após dificuldades financeiras devido ao aumento do preço do aluguer, decidiram dar o passo mais formidável da história da organização: a compra de um imóvel.

“A compra foi concluída em 2000, mas o processo começou em 1999. Dez sócios emprestaram o dinheiro [para a entrada]. Alguns emprestaram dez mil e outros trinta mil dólares, o que nos permitiu concluir a compra. Era uma igreja antiga. Tivemos a sorte de, na altura, um padre português interceder junto da Paróquia em nosso nome para facilitar a compra. Sem a ajuda dele, teríamos pago muito mais. [O prédio] custou duzentos e oitenta e cinco mil dólares. Mantivemos uma hipoteca muito acessível, mas o prédio era enorme. Tinha um total de dez mil metros quadrados – cinco em cada andar – mais o subsolo”, lembrou Fernandes.

A nova sede concedeu à organização um estatuto elevado na comunidade. Aqui, serviam-se almoços e jantares e um bar estava aberto todos os dias. Aos sábados e domingos realizavam-se espectáculos de fado. Ocasiões especiais como a Páscoa e o famoso Baile da Pinha foram celebrados aqui para casas cheias. Também se ofereciam aulas de Zumba e de aeróbica, e até se criou um grupo de teatro, que chegou a atura em Otava por diversas vezes, e as marchas do Benfica. O Sport Montreal e Benfica também já teve duas equipas de futebol – séniores e veteranos. Era uma organização dinâmica fundada com o pretexto do desporto, mas que ostentava um relevante significado social e cultural. “Sempre tivemos a casa cheia. Às vezes, as pessoas ficavam chateadas porque não tínhamos espaço para mais”, disse Carlos Fernandes. No entanto, a pausa na imigração e o envelhecimento dos sócios começaram a contribuir para um declínio inevitável, o que levou a que decisões difíceis tivessem que ser tomadas.

Uma Glória do Benfica, o saudoso Chalana (linha superior, segundo da esquerda), posa com a equipa do Sport Montreal e Benfica

“Foi uma boa compra, um bom passo. No entanto, a imigração para Montreal [de Portugal] parou e os nossos sócios já estavam principalmente na faixa dos cinquenta e sessenta. Muitos já faleceram, outros mudaram-se para Portugal. A certa altura, tínhamos 285 sócios pagantes, agora temos 48. Depois, a pandemia obrigou-nos a fechar. Em 2021, decidimos vender o prédio porque tínhamos uma despesa mensal de quatro mil dólares. Entretanto, muitos dos portugueses deixaram a área do Bairro Português e mudaram-se para os subúrbios”, disse Carlos Fernandes, para depois apontar que “o maior problema são as caixas [android] que as pessoas têm agora em casa. Qualquer pessoa pode ver futebol em casa, mas antes era transmitido nas associações. Cobrávamos dez dólares por pessoa por cada jogo. Isso por si só ajudou a manter as nossas finanças estáveis. Com as caixas, perdemos isso.”

Embora a venda do prédio fosse a solução mais viável para a sustentabilidade da organização, não foi sem esforço nem sacríficio, com muitas criticas à mistura, que esse objetivo foi alcançado. Por um lado, a perspectiva causou divisões entre sócios e simpatizantes. Depois, o litígio causou ainda mais danos quando uma associação que alugava o espaço quis forçar a venda do prédio. O Sport Montreal e Benfica teve de levar o caso a tribunal, que acabou por ganhar, mas também se viu obrigada a gastar milhares de dólares em advogados. “Foi um ano muito difícil porque não só perdemos o dinheiro do aluguer como também porque tivemos que gastar mais com advogados. Não foi fácil”, lamentou Fernandes. Somou-se à queda de interesse e à situação ainda mais agravada pela pandemia, a dificuldade de encontrar pessoas interessadas em formar uma Direção. “Só para você ter uma ideia, sou presidente há vinte anos. Atualmente, temos uma Comissão Administrativa composta por seis pessoas”, disse.

O edifício foi finalmente vendido por dois milhões trezentos e cinquenta mil dólares. “Em parte, a pandemia ajudou a resolver os problemas do Benfica porque tomámos uma decisão que mais tarde ou mais cedo teria de ser tomada. Foi uma decisão difícil porque era um bom prédio, mas muito caro para manter. Nos últimos anos, gastámos muito dinheiro com o prédio. Tivemos que consertar o telhado, que nos custou mais de cem mil dólares, e tivemos que fazer um empréstimo. A venda do prédio permitiu-nos manter as portas abertas em Montreal sem problemas financeiros pelos próximos dez ou quinze anos. Temos cerca de dois milhões de dólares no banco. Temos um contabilista que paga as contas e prepara os nossos relatórios financeiros. Estamos a pensar alugar um espaço com bar onde os nossos membros possam beber um copo e ver um jogo”, anunciou Carlos Fernandes.

A ideia é elevar o estatuto da organização de Filial para Casa do Benfica. Isto significa que o espaço terá de seguir os parâmetros definidos pelo Sport Lisboa e Benfica para todas as suas Casas espalhadas pelo mundo.

Para o efeito, Carlos Fernandes já iniciou conversações com o Sport Lisboa e Benfica para que o diretor das Casas do Benfica, Jorge Jacinto, faça parte da grande reabertura da organização. Ele não será, no entanto, o primeiro visitante do clube-mãe em Montreal. No passado, personalidades como Eusébio, Luís Filipe Vieira, José Águas, Michel Preud'homme, Chalana, Veloso e Mozer, entre outros, foram também convidados especiais durante as comemorações do aniversário da organização.

O Sport Montreal e Benfica pode ter tropeçado, mas não caiu. Cabe agora aos benfiquistas em Montreal garantir que a organização possa retomar o caminho para um futuro mais sustentável.

Se encontrar erros ou omissões neste artigo, envie-nos um e-mail para contact@lusocanada.com
Vamos escrever a nossa história juntos! Contribua com o seu relato, experiência, memória, foto ou vídeo relacionados com esta organização e/ou à comunidade a que está associada. Envie-nos um e-mail para contact@lusocanada.com