Associação Cultural do Minho

Data de Fundação:1977
Endereço: 165 Dynevor Avenue
Toronto, Ontario
M6E 3X5
Telefone:416-781-929

A primeira Associação Representativa do Minho em Toronto

Versão de áudio (disponível apenas em inglês):

A Associação Cultural do Minho foi fundada em 1977 e tornou-se a primeira organização a representar a província mais a norte de Portugal no Canadá, seguida do Arsenal do Minho em 1986 e da AM Barcelos em 1998.

Embora o ano de 1977 seja reconhecido como a data oficial da sua fundação, o prelúdio da AC Minho ocorreu em 1974 quando um grupo de imigrantes decidiu formar um rancho folclórico para representar o Alto Minho.  Nos três anos que se seguiram, o grupo ensaiou em vários locais, tais como as garagens dos seus elementos, até que Miguel Melo decidiu que chegara a altura de fundar formalmente uma associação que desse aos minhotos a oportunidade de se reunirem num espaço comum.  A oficialização da AC Minho coincidiu com a formação de um novo rancho folclórico para representar a organização.  Como resultado, o grupo original começou a perder os seus elementos, levando os dois grupos a se fundirem num só.  

Embora a adesão inicial de associadas tenha sido notável, a organização encontrou vários desafios durante os seus anos de fundação. A falta de um espaço adequado para albergar o grupo folclórico e realizar reuniões e eventos, como relatou o então presidente Octavio Barros à Revista Luso-Ontário, em 2008, foi um deles. “Começámos por celebrar a Páscoa e o Carnaval. […] Durante muitos anos, as reuniões foram realizadas em casas de amigos. Mais tarde, alugámos uma sala junto ao BCP (zona da Dundas e Ossington) onde faziamos as nossas reuniões”, recordou.

Rancho Folclórico da Associação Cultural do Minho de Toronto (foto: página da AC Minho no Facebook)

Foi em 1993 que o actual edifício foi adquirido com a ajuda de um agente imobiliário que na altura era também sócio da associação. Segundo Octavio Barros, o imóvel foi adquirido por 277,000 mil dólares. 

O Arraial Minhoto, que reproduz o famoso Santoinho de Viana do Castelo, tornou-se no evento de referência da organização. O festival começou num salão modesto, depois mudou-se para o sala do sindicato LiUNA Local 183, mas o sucesso foi tanto que a associação decidiu começar a realizá-lo, mais tarde, no The Hangar at Downsview Park. Todos os anos, cerca de duas mil pessoas participam no festival, que se arrasta pela noite fora.  O Arraial Atrai não só talentos da comunidade portuguesa residente no Canadá como também grupos vindos de Portugal e dos Estados Unidos.  Aqui, é possível saborear sardinhas, costeletas de porco e caldo verde.  Para ajudar, nada melhor do que o tradicional champarrion (bebida feita de uma mistura de vinho, cerveja e açúcar).  O evento também já foi realizado no Camões Park, em Orangeville, e no Milton Park.  

A AC Minho orgulha-se de promover os elementos culturais da província que representa. Para além do grupo folclórico e do Arraial Minhoto, mantém também a arte de tocar instrumentos tradicionais através de uma escola que ensina jovens e adultos a tocar acordeão e cavaquinho.  Na sua lista de atividades, a associação também conta com uma escola de português.

Com ficheiros da Revista Luso-Ontário, 2008
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AC Minho – com olhos no futuro

18 Setembro 2023

Paulo Pereira com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal

Associação Cultural do Minho de Toronto (ACMT) já passou por várias etapas nos seus quase cinquenta anos de existência, mas nenhuma tão emocionante como nos tempos atuais. Liderada por uma direção composta maioritariamente por jovens, a organização procura encontrar formas criativas de atrair a geração mais jovem de luso-canadianos. Isto deve-se principalmente ao notável esforço do jovem executivo liderada pelo presidente Paulo Pereira, que faz parte da associação desde que nasceu.

Embora novas iniciativas de relevância estejam a ser atualmente promovidas, a essência cultural e o foco da ACMT têm permanecidos intactos. O seu Rancho Folclórico, fundado ainda antes da própria associação, continua a atrair o maior número de participantes regulares de todas as idades, como nos contou Paulo Pereira numa conversa efetuada em abril de 2023: “Temos dançadores de 4 anos, e eu sou o mais velho , com 29 anos. Depois temos o grupo da música que ja é composto por elementos de mais idade, da idade dos meus pais. Nota-se aqui uma transição de gerações e queremos que continue. Temos música e cantadeiras ao vivo e os trajes representam o Alto Minho.”

A seccão de ranchos folclóricos é composta por grupos infantis e adultos. 

O rancho precede a fundação da associação (crédito da foto: página da organização no Facebook)

Músicos e cantadores do rancho folclórico muitas vezes atuam sozinhos como grupo de cantares tradicionais. São apelidados de grupo de rusgas. A cada mês de janeiro, o grupo testemunha um crescimento repentino, mas temporário, aquando do dia dos reis. O grupo percorre a cidade visitando estabelecimentos comerciais para entoar o tradicional cantar dos reis, um evento de dia único que anuncia a chegada dos três reis a Belém, onde Jesus havia nascido.

O grupo de bombos bombos (chamados “Os Alegres”), constituido por bombos e caixas tradicionais que são usados em festivais realizados no norte de Portugal, é atualmente também uma componente cultural de relevo regularmente apresentada pela ACMT. O instrumento costuma ser acompanhado por figurantes gigantes com cabeças de tamanho descomunal, apelidados de “Os Cabeçudos”. Esta combinação é conhecida em Portugal por “Zés Pereiras”. Por altura da viragem do último milénio, a associação trouxe o conceito para o Canadá, que tem atraído muita atenção em vários eventos anuais.

“É um grupo que mantém as tradições dos Zés Pereiras, que são o grupo de bombose os nossos tradicionais Cabeçudos. Normalmente, os Cabeçudossó atuam em ocasiões especiais como o Dia de Portugal, na nossa festa do Santoinho, ou no nosso piquenique anual que é por altura do São João, mas eles estão à disposição para serem usados a qualquer altura. Vieram de Viana do Castelo. Ainda me lembro de eles serem enchidos nos caixotes e entrar no contentor. O Grupo de Bombos começou com duas caixas e dois bombospor volta do final dos anos oitenta e início dos anos noventa. Lembro-me do meu pai tocar na parada e levar o contingente debombo. Há cerca de dez anos, o nosso grupo expandiu bombos . Passámos de duas caixas e dois bombos para seis caixas e seis bombos. Os Cabeçudosjá estavam connosco pelo menos desde 1997 porque me lembro da atuação deles no primeiro Santoinho que organizámos”, revelou Paulo Pereira.

Os Alegres (foto: página do Facebook da organização)

A sede da organização está repleta de gente quase todos os fins de semana. É aqui que sócios e apoiantes se reúnem e onde os grupos culturais ensaiam. A nova direção está gradualmente a introduzir mais iniciativas neste local, mas alguns dos eventos anuais atraem multidões que excedem a capacidade do salão, que é de 120 pessoas. Essas ocasiões incluem a celebração da Páscoa, o Arraial de Santoinho, e o piquenique anual.

“Tivemos mais de 700 convidados na nossa última celebração da Páscoa”, afirmou, com orgulho, Paulo Pereira para depois acrescentar: “Temos também o Santoinho, que geralmente é organizado no final de setembro ou início de outubro, e atrai mais de mil pessoas. Agora fazemos no Tibetan Hall, em Etobicoke. O nosso Santoinhoé feito em parceria com o  Santoinho de Portugal. Temos uma ligação com a fundação Santoinho para manter as tradições o mais aproximadamente ao que eles fazem lá. Temos um intercâmbio e tivemos o prazer de ter cá o filho do fundador e membros do comité executivo da Fundação Santoinho para celebrar o Santoinho. No que diz respeito ao nosso piquenique anual, é uma oportunidade para as pessoas se reunirem, passarem uma tarde a jogar futebol, a tocar concertina, a ouvir os bombos , ir à missa e manter as nossas tradições.” O piquenique anual é realizado atualmente no Parque Croata Karlovac, em Milton.

Há poucos anos atrás, a arte de tocar instrumentos tradicionais era lecionada na ACMT, mas o programa foi desaparecendo por falta de interesse. Paulo Pereira acredita, no entanto, que o projecto possa ser ressuscitado dado o interesse renovado de muitos dos sócios e apoiantes mais jovens da associação. “Um minhoto sem concertina não é minhoto.", realçou o presidente.

Um evento na sede da associação (foto: página do Facebook da organização)

Alguns dos novos projetos propostos pelo novo executivo já estão em andamento. Um deles é o programa de explicações, liderado por um professor de matemática, que ocorre todas as sextas-feiras à noite na sede da associação. Alunos de todas as idades e origens aproveitam a oportunidade, como informou Paulo Pereira: “Não precisam de ser sócios nem de ser portugueses. Temos até estudantes universitários que participam no programa.”

A implementação de eventos regulares na sede da associação é algo que Paulo Pereira e a sua direcção já iniciaram. Estes incluem festas e encontros que servem tanto um propósito cultural quanto social. No entanto, o presidente tem planos ainda maiores: “Esta Direcção tem-se concentrado na organização de muitos eventos na nossa sede, principalmente vocacionados para a culinária portuguesa. Pretendemos abrir uma escola de culinária. É pegar na minha mãe, em elementos do nosso rancho e outros cozinheiros e começar a passar a tradição de cozinhar a nossa comida para gerações mais novas. Ainda não está desenvolvido o projeto mas está encaminhado para avançar em breve.”

Tal como aconteceu com outras organizações comunitárias por todo o país, a Associação Cultural do Minho de Toronto também sofreu o impacto provocado pela pandemia de Covid-19. Durante esse período, Paulo Pereira residia e trabalhava na Europa. Quando regressou ao Canadá, encontrou a ACMT em alguns apuros. “Falei com pessoas da minha idade e até mais novas do que eu. Disse-lhes que precisávamos de mudar as coisas aqui, de rejuvenescer a instituição e de a fazer avançar. Nós amamos este lugar. Precisávamos de cuidar dele porque um dia ele também cuidou de nós. Foi isso que a pandemia provocou em mim e em muitos dos meus amigos. Percebemos que precisávamos de fazer um esforço. Não estou aqui para reinventar a associação, mas para estabilizá-la. Gostaria de ver a associação, e a comunidade em geral, mais fortes e unidas, e se eu puder fazer parte disso, farei. Quero ver uma organização que seja ativa, que preserve a cultura e que ofereça um espaço confortável para interações sociais. É para isso que trabalho”, afirmou Paulo Pereira.

Como resultado deste rejuvenescimento, a presença da organização nas diversas plataformas de redes sociais já está a causar grande impacto. Recentemente, um de seus vídeos tornou-se viral no TikTok. Este fenómeno também está a ajudar a ACMT a promover a sua missão da promoção de elementos cruciais da cultura portuguesa.

Jovens administradores da ACMT com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal (foto: página do Facebook da organização)

Paulo Pereira não só tem apresentado novos projetos como também uma nova mentalidade com o intuito de criar um futuro sustentável para a organização. “Durante muitos anos, ouvia que deveríamos apoiar os jovens. É um daqueles cenários em que é muito mais fácil dizer do que fazer. Temos de compreender que, desde a década de noventa, as ondas de imigração que sustentaram as nossas associações estagnaram e diminuíram. Isto significa que as nossas organizações devem adaptar-se para atender não só aos que vêm de Portugal, mas também aos luso-canadianos que aqui nasceram, e para oferecer serviços que lhes sejam atrativos. Isto significa que nem todas as atividades serão culturais e diretamente relacionadas com Portugal, mas podem ser relacionáveis ​​com os luso-canadianos. O nosso dia a dia já não está relacionado com as tradições da aldeia. Está relacionado com o que fazemos aqui em Toronto e no Ontário e com as nossas experiências, que são diferentes daquelas que os nossos pais tiveram”, disse Paulo Pereira.

O novo presidente está também a introduzir formas mais eficazes de gerir os assuntos da associação, uma medida que deve causar impactos positivos e duradouros. A ideia é criar um modelo operacional que possa ser facilmente comunicado durante a transição de corpos gerentes e depois replicado para o futuro. “Embora sejamos um centro comunitário, devemos ter modelos de negócios sólidos e protocolos para resolver determinadas situações. Precisamos preservar a cultura, mas também fazer as coisas de forma simples e organizada”, afirmou Pereira.

Embora a ACMT esteja actualmente financeiramente estável e goze de grande afluência por parte dos seus sócios e apoiantes, Paulo Pereira acredita que é necessário criar um novo modelo para as nossas organizações comunitárias: “Pessoalmente, penso que estamos preparados para cinco ou dez bons anos. Temos energia, estamos focados e queremos ajudar a nossa associação a evoluir. Contudo, penso que, nos próximos 5 ou 10 anos, a nossa comunidade precisa de se unir e formar uma Casa de Portugal onde possamos operar não só com voluntários, mas também com profissionais. Ou chegamos a esse ponto ou muitas das nossas associações desaparecerão, e já começámos a testemunhar isso. Penso que temos muito mais a ganhar trabalhando num projecto comunitário do que simplesmente preservar as associações existentes. Não creio que exista uma organização comunitária na comunidade portuguesa capaz de sobreviver nos próximos 100 anos.”

Por enquanto, Paulo Pereira e a sua direção estão a trabalhar diligentemente para fazer da Associação Cultural do Minho de Toronto um modelo a ser seguido por outras associações comunitárias portuguesas em todo o Canadá. À medida que nos integramos e nos dispersamos pela sociedade em geral, a necessidade de criar organizações mais sustentáveis ​​torna-se crucial. Se envolvermos os jovens, se os ouvirmos e permitirmos que eles façam parte do processo de tomada de decisões, teremos a possibilidade de manter a nossa relevância cultural daqui a um século. A ACMT está a fazeer a sua parte. Será que as outras organizações a conseguirão acompanhar?

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